Guarani: André Marconatto, novo mandato e o desafio de tirar o espirito de Sucupira do Brinco de Ouro

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Escrita originariamente como peça de teatro em 1962, a novela O Bem Amado, veiculada em 1973 é um marco da teledramaturgia. Conta a história da cidade de Sucupira e do prefeito Odorico Paraguaçu, autor de atitudes controversas e que tinha como principal bandeira de campanha a inauguração de um cemitério na cidade.

A sua epopeia tinha um grave problema: Ninguém morria. E quem batia com as botas preferia ser enterrado nas cidades vizinhas. Para realizar a sua promessa, o prefeito apelou e contratou Zeca Diabo, o matador vivido por Lima Duarte que no capitulo 177, sentindo-se enganado por Odorico, lhe mata com vários tiros. Ironia do destino: o cemitério foi inaugurado por aquele que tanto desejou.

Novelas são histórias de ficção. E por vezes servem de inspiração na vida real. Ao observar a movimentação de ontem no estádio Brinco de Ouro, em relações as eleições para nova escolha do novo Conselho de Administração, cheguei a conclusão de que o Guarani Futebol Clube virou uma grande Sucupira da bola.

Porque a cidade não tinha apenas Odorico Paraguaçu. Alias, é bom observar: o Guarani é uma cidade sem prefeito, porque não surgiu nenhum Odorico Paraguaçu nem nas poucas qualidades muito menos os defeitos.

Nestes últimos 15 anos, quantos não fizeram o papel de Dirceu Borboleta, ou seja, foram subservientes ao poder de plantão e eram facilmente enganados quando os dirigentes não mediam esforços para atingirem seus objetivos? Que muitas vezes, não faziam o clube avançar?

Assim como o Guarani está cheio de gente sedento para exercer o papel das Irmãs Cajazeiras. Seja homem ou mulher, são pessoas que utilizam as redes sociais para tumultuar, transmitir informações falsas, desvirtuar noticias e plantar o caos e a confusão no Guarani. O que indiretamente, beneficia o executivo de plantão. E não adianta fugir: essas figuras estão em todos os grupos políticos presentes no Brinco de Ouro.

A maioria não conhece os personagens mas existia um núcleo que encarnava a oposição de Sucupira. Existia o jornalista Neco Pedreira, dono do jornal a Trombeta, que criticava o prefeito. Só que depois ele fica noivo de Telma, a filha do prefeito, o que bem ou mal é um nítido conflito de interesses. E aqui devemos dizer com todas as letras, que este conflito existe dentro de nossa própria imprensa. Afinal, como criticar quando você deixa a paixão ficar acima da razão. É contra a lei? É errado? A resposta é não para ambas as perguntas. Só que é nítido uma relação conflituosa para quem tem o dever de fiscalizar e acompanhar os atos do poder.

Tinha ainda o dentista Lulu Gouveia, interpretado por Lutero Luiz, que era o candidato a prefeito de Sucupira pela oposição.E quando Odorico Paraguaçu morreu, foi o dentista que fez o discurso mais inflamado e emocionado. Ou seja, não se sabia o que era situação e oposição. Quantos atores políticos do Guarani não adotam a mesma postura? Elogiam hoje e criticam amanhã. Mudam de lado como trocam de camisa. Sem contar grupos que pregam a modernidade mas, no fundo, querem deixar tudo do jeito que está. Assim como os apoiadores de Odorico Paraguaçu.

Final das contas: A eleição transcorreu sem ninguém saber quem era situação e oposição. Um dos candidatos formou chapa porque um acordo foi quebrado. Outro era cunhado do atual mandatário. No final, os 14 integrantes de um jeito ou de outro foram apoiadores ou colaboradores daqueles que comandaram o Guarani nos últimos 10 anos.

Hoje, o torcedor bugrino está agora na expectativa da gestão de André Marconatto e do seu Conselho de Administração. Ele não é Odorico Paraguaçu. Em nenhum requisito. Mas se o mandatário fictício tinha a inauguração do cemitério como sua obsessão é possível dizer com todas as letras que a Sociedade Anônima do Futebol é o cemitério de André Marconatto assim como o Guarani é a nova Sucupira. Sim, porque o prefeito prometia que o novo empreendimento abriria uma era de prosperidade e desenvolvimento para a cidade. O novo presidente bugrino enuncia conceitos idênticos. Apesar da constatação inequívoca de que do mesmo jeito os problemas de Sucipira continuaram os mesmos após o surgimento do cemitério, dá para dizer que clubes comemoram o crescimento com a SAF mas também existem outros cuja metodologia virou um pesadelo.

E o Guarani? Como será o futuro? Não dá para saber. A única garantia é que existem dois caminhos: ou teremos a mentalidade de pessoas antenadas com os novos tempos ou o clube ficará refém do provincianismo. Ou seja, continuará uma réplica de Sucupira. Que este destino desapareça da vida do Guarani.

(Elias Aredes Junior com foto de Thomaz Marostegan- Guarani F.C)