Imprensa brasileira quer técnico brasileiro ou estrangeiro? Nada disso. Ela quer se sentir influente e poderosa. Cada vez mais…

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A imprensa dita a pauta no Brasil. Na política já é algo presente ( e combatido pela mídia independente),  e no esporte começa a ficar cada vez pior.

Verifique os últimos movimentos do futebol brasileiro. O Flamengo demite Domenec Torrent e seu primeiro alvo é Rogério Ceni, que faz um belíssimo trabalho no Fortaleza. Mas o trabalho já era bom. Por que não foi cogitado após a saída de Jorge Jesus? Queiramos ou não, Ceni é forjado dentro da cultura do futebol brasileiro. Na época, o Flamengo queria fugir dela. Agora parece ter capitulado.

No Internacional, Eduardo Coudet vai sair em direção ao Celta de Vigo. Deve ser substituído por Abel Braga. O mesmo que fracassou no Flamengo cheio de estrelas. O que mudou? Simples: Abel é o conhecido “da casa”. Não só para clube e torcida, mas para a imprensa local. Terá aceitação quase que imediata. Sem restrições. E alivia a barra do presidente. Coudet, apesar de bom profissional, não venceu as resistências produzidas por um nacionalismo torto, mais afeito a perpetuar vícios e defeitos do que exaltar virtudes.

Para entender essa mudança de rumo, é primordial compreender o mecanismo do futebol brasileiro na atualidade.

Foi alterado o modo como se assiste futebol. Durante os 90 minutos, o Twiiter é invadida por análises em tempo real de torcedores e de jornalistas esportivos que aproveitam a sua presença em órgãos de comunicação de massa para estender a sua influência para as redes sociais. E não tem pudor em assumir sua posição clubística.

Um detalhe: cada um vai para a frente do teclado com uma tese, com uma ideia daquilo que considera ideal. Dane-se o trabalho do treinador; Pouco importa a metodologia de trabalho. O que deve prevalecer é meu pensamento e pronto.

Se não vai ao encontro dos conceitos da mente, dá-lhe pressão e processo de convencimento de que aquela não é a melhor opção. Fritura na veia.

Internacional e Flamengo fizeram o melhor jogo do turno inicial em outubro. Não bastou. Afinal, são técnicos estrangeiros, sem qualquer envolvimento com o Brasil. Não dão espaço para palpites, conversas ou dão a sensação ao jornalista de que sua ideia é tão poderosa que pode mudar o rumo de um trabalho no vestiário.

Fique ciente: quando alguém da imprensa esportiva (da qual faço parte) diz que não importa se o técnico for brasileiro ou estrangeiro, acredite em parte. No fundo, todos querem um treinador para trocar ideias pelo zap ou palpitar. Ou saber que um simples tuite seu pode provocar um terremoto no vestiário. A vaidade é a grande inimiga do jornalismo esportivo. E vai ajudar a matar o futebol brasileiro.

(Elias Aredes Junior)