Majestoso, 71 anos: quando o concreto é vencido de goleada pelo afeto

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O final de ano era mágico quando era criança. Arrumava as malas e me dirigia para Guarantã. Perto de Lins. Estadia na casa dos avós. Primos, tios e agregados surgiam de todos os cantos do estado de São Paulo e de outros estados. Umas 50 pessoas.

Não havia luxo. Uma casa simples, com três quartos, sem forro. Conhecíamos cada canto do lugar. Éramos felizes. Sem luxo, com simplicidade e afeto.

Recordo cada segundo que passei. Passei natal e ano novo em outros locais muito mais luxuosos, com Buffet mais requintado, mas sem 1% do calor humano e da interatividade que vivi naqueles cômodos.

Hoje entendo que talvez esse tenha sido o fator que aproximou meus Enoch, Nabal, Francisco e Oady da Ponte Preta.

Pense você sair do interior e vir para cidade grande em meados das décadas de 1950 e 1960. Tudo é novo, desconhecido e selvagem em certa medida. Você não tem referências, sentimentos ou alguém que lhe possa dar carinho.

Todos do clã Aredes, ao entrarem pela primeira vez no Moisés Lucarelli certamente sentiram algo que vai além de um estádio de futebol. O afago, o carinho entre os semelhantes, o sentimento de pertencimento e o congraçamento que vai além de cimento, ferro e tijolo. Que, aliás, só se encontram ali porque homens e mulheres abriram de tempo e recursos humanos para transformar o sonho em realidade.

Almoços e jantares era um prato cheio para recordar espetáculos e sagas vividas no Majestoso. Na descrição das jogadas de Roberto Pinto, Dicá, Marco Aurélio, Oscar, Carlos, sempre existia uma pitada, uma frase que dava o complemento necessário. “Quando vi eu estava com fulano, ciclano…”. Jogo de futebol em um estádio que gosta de gente, de povo.

Hoje o estádio Moisés Lucarelli completa 71 anos. Eu não esqueço dos sabores, do carinho, do afeto da minha vó. Me diziam que o passado seria apagado quando passasse a conviver em outros ambientes, cidades, país. Balela. A gente nunca esquece. Tanto que a casa, está lá, intacta, trancada, pronta para ser aberta para uma nova história, uma nova emoção.

O conceito aplica-se ao Majestoso. Não adianta aqueles que defendem a Arena Ponte Preta afirmarem em alto e bom som que será melhor, luxuoso, adequado, moderno e que colocará a Macaca a frente do seu tempo.

Não, não colocará. O Majestoso é diferente. Estádio com alma. História. Suor, lágrimas e sorrisos de pobres, ricos, remediados, classe baixa, classe média ou de todo aquele que deseja viver o futebol na plenitude.

O estádio Moisés Lucarelli respira. O novo estádio só será mais uma obra de engenharia, com luxo, mas sem algo fundamental: coração.

Feliz Aniversário Majestoso. E continue a abraçar a todos que queiram sentir o que é futebol de verdade.

(Elias Aredes Junior)