No Brasil, o futebol caminha para ser propriedade de poucos. Quem irá impedir?

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Pelo fim do Superfaturamento dos ingressos. Essa era a frase escrita em uma faixa estendida na Neo Quimica Arena quando o Corinthians estreou no Campeonato Paulista diante do Água Santa no dia 18 de janeiro. A torcida corinthiana protestou contra o aumento dos ingressos e a elitização do futebol. O efeito foi rápido. Na segunda-feira, dia 23 de janeiro, uma reunião entre o mandatário Reynaldo Carneiro Bastos, o presidente do Corinthians, Duilio Monteiro Alves e representantes de torcidas organizadas corinthians já iniciou a discussão para o barateamento dos ingressos.

De outro lado, alguém tenta fazer alto. Com valores acessíveis às camadas mais baixas, a Ponte Preta transforma a Série A-2 em autêntica festa. É exceção. Especialmente pelo desprezo ao tema por parte da maioria da imprensa. Existe uma matéria aqui e ali, uma nota de pé de pagina de jornal e um registro nos infindáveis debates nas televisões por assinatura. Mas pressão que é bom, nada.

Alguns motivos explicam a conjuntura adversa. Primeiro porque as pautas foram invertidas no futebol. Fala-se mais de dinheiro do que aparecimento dos craques oriundos das categorias de base. Mercantilização total. Pior: não há valorização dos talentos revelados. Ou você considera adequado o destaque dado a final da Copa São Paulo entre Palmeiras e América Mineiro?

Relembre o espaço na mídia quando Ponte Preta e Guarani triunfaram nesta competição e saberá do que falo. Tudo gira em torno do dinheiro. Não, não prego aqui uma postura socialista para o futebol. Nada disso. Quero apenas expor algo óbvio: o ser humano é a base de tudo. Sem ele, não há como melhorar e evoluir. Pensar apenas no futebol enquanto bem material só produz um ambiente frio, sem graça e longe das demandas populares. Hoje, os estádios podem ser até confortáveis, modernos, mas falta o essencial: mais povo. Mais calor Humano.

Ora, se existe algo tão presente e se o tema é tão necessário porque a imprensa esportiva não martela? Porque ela mudou. E digo: para pior.

Assim como as arquibancadas do Século 20, a crônica esportiva brasileira representava naquela época as virtudes e defeitos da sociedade. Tínhamos jornalistas esportivos de origem humilde, remediados, classe média, classe alta. Gente que transformava os debates esportivos em algo rico e diferente.

Aos poucos, o jornalismo, por uma série de fatores passou a ser um curso caro. Apesar da disponibilidade de modalidades de financiamento, todo o jornalismo esportivo passou a ficar nas mãos da classe média alta. Sim, porque apesar das novas oportunidades abertas, os alunos da elite que chegam às empresas estão previamente preparados: com pós graduação, domínio de quatro, cinco idiomas…Não, isso não é ruim. É necessário. Só que quando apenas uma parte tem acesso a estes instrumentos por causa da nossa absurda desigualdade de renda os vencedores já estão definidos. E o jornalismo esportivo de sapatênis. Lotados de teorias, números, ciência, mas longe e distante da realidade do torcedor. Pessoas que infelizmente poucas vezes frequentaram um estádio de futebol a partir do olhar do pobre que senta na arquibancada.

Profissionais que por vezes são mais formados na tela do vídeo game do que no calor de quem deseja balançar a bandeira do seu time. E que por mérito e também pelas desigualdades produzidas no Brasil, essas pessoas são beneficiadas e nunca precisaram contar notas e moedas para verificar se podiam passar pela catraca. É essa gente que forma a opinião esportiva no Brasil atual. E que pouco liga se seu dinheiro dá ou sobra.

O que a torcida do Corinthians faz é apenas gritar e dizer que existimos. Que tem muita gente do lado de fora querendo entrar. E eles merecem entrar.

É uma gente que não aceita que as arquibancadas reproduzam uma faceta do Brasil que ninguém quer ver: um lugar para poucos. E que esses poucos não se importam com os muitos que estão excluídos. Isso precisa mudar. Basta querer. Mas quem vai querer. Esta é a pergunta que só respondida se todos puderem falar e gritar um gol a beira do alambrado. Por que o futebol é de todos e não de um punhado. Que querem sugar até a ultima gota de sangue de um esporte apaixonante. Uma pena.

(Elias Aredes Junior- foto de Lucas Figueiredo-CBF)