Reportagem Especial: Campinas perde protagonismo sem competentes diretores de futebol em Ponte Preta e Guarani?

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O futebol campineiro vive um instante diferente. Presidentes comandam seus clubes com mão de ferro e uma figura anteriormente vital virou mero coadjuvante: o diretor de futebol. Protagonistas da era de ouro de Ponte Preta e Guarani, este cargo virou quase que uma peça secundária, tanto no debate da opinião pública como na gestão e montagem das equipes. Ou alguém acompanha entrevistas de Anaílson Neves no Guarani e de Hélio Kazuo na Ponte Preta?

Reconhece as digitais desses homens no Moisés Lucarelli e no Brinco de Ouro? Não, tudo está nas mãos dos executivos, com formação acadêmica e determinados em realizar uma gestão profissional e com planejamento. Detalhe: remunerados e disponíveis 24 horas por dia.

Uma visita ao passado dos clubes levará a um cenário inverso. No Guarani, uma das duplas de dirigentes de futebol com relevância foi formada na década de 1960 por Luis Roberto Volpe e José Penteado. De acordo com informações de José Ricardo Lenzi Mariolane, estudioso da história do Guarani, a gestão era compartilhada e produzia resultados. “Os dois trabalhavam sempre em dupla, sentavam ambos no banco de reservas e eram amigos dos jogadores, os jogadores gostavam deles”, disse Mariolani ao descrever informações repassadas pelo seu pai sobre os dirigentes que atuaram de 1959 a 1964.

Beto Zini e Claudio Corrente e gestões históricas

Na década de 1970, João Secco auxiliava no departamento de futebol na gestão de Leonel Martins de Oliveira e não há como pensar no título brasileiro de 1978 sem pensar em Michel Abib com papel preponderante na direção de futebol.

Na década de 1980, Luiz Roberto Zini ganhou projeção após ser o diretor de futebol responsável pela montagem da equipe que terminou na terceira colocação do Paulistão de 1985. Três anos, já presidente, Zini delegou o futebol para Cláudio Corrente, vice-campeão paulista na ocasião e que repetiu a performance e em idêntico cargo no torneio regional de 2012, cuja marca principal foi a proximidade com os jogadores e o bom relacionamento com ídolos do passado.

Nos cinco anos de sua presidência, de 2006 a 2011, Leonel Martins de Oliveira, voltou a confiar em João Secco para exercer a diretoria de futebol. Era contestado pela torcida e imprensa por não dar declarações e fugir de assuntos espinhosos. O presidente  rebatia e dizia que João Secco era importante na estrutura do clube e na sua visão foi fundamental para os acessos obtidos em 2008 e 2009.

Pastana: o início de uma nova era

O acesso obtido na Série C também nutre uma marca importante, a de uma das primeiras conquistas bugrinas no qual o executivo de futebol (na ocasião, Rodrigo Pastana) teve papel preponderante. Até em detrimento de dirigentes indicados pelo atual presidente Horley Senna.

Pedro Antonio Chaib: o gênio de uma era de ouro

Na Ponte Preta, falar em diretor de futebol é pensar em Pedro Antonio Chaib. Fundador do Gazeta, importante clube amador da cidade, ex-jogador da própria Ponte Preta, o advogado e na atualidade proprietário de um estacionamento no centro de Campinas, tem as suas digitais nas principais campanhas da história do clube. Chaib foi o diretor de futebol na trajetória que culminou com a conquista da Divisão de Acesso do Campeonato Paulista de 1969. Quando Lauro Moraes venceu as eleições presidentes da Macaca, em 1977, Peri Chaib voltou ao cargo e teve participação nos vices campeonatos de 1977 e 1979.

Apesar do poder para comandar o departamento, Peri tinha seus passos descritos e analisados pelo Conselho Deliberativo. É o que mostra, por exemplo, o volume IV da História da Associação Atlética Ponte Preta, de autoria de Sérgio Rossi. Ali, estão contidas atas de reuniões do Conselho em que Peri explicava valores e o processo de negociação da renovação de contrato de atletas como o lateral-esquerdo Odirlei e do meia Marco Aurélio e como foi a aquisição do centroavante Rui Rei, uma das figuras do time de 1977.

A década de 1980 e a nova gestão na Ponte Preta

Na década de 1980, com a ausência da mão forte de Peri Chaib, a Ponte Preta também tinha uma gestão diferenciada. No ano de 1981, a Macaca faturou a Copa São Paulo de futebol Junior, sagrou-se vice-campeã paulista e terminou o Brasileirão na terceira colocação. Armando Mendonça era o vice-presidente de futebol enquanto que Adhelmar Perin era o diretor de futebol profissional e que recebia uma ajuda preciosa, pois  pontepretanos influentes como Carlão Perna de Pau, Zé do Pito, Fausto da cunha Penteado e Odilon Amorim davam seus palpites com sabedoria, conforme relato do jornalista Ariovaldo Izac. A ajuda não era recebida de bom grado.

No volume V da “História da Associação Atlética Ponte Preta”, na página 177 existe a descrição de uma reunião do Conselho Deliberativo, cujo ponto alto foi um ato de revolta do então presidente Edson Aggio devido a instalação de comissão para atuar junto a diretoria de futebol. A ata da reunião do dia 09 de setembro de 1980 mostra que a sugestão encaminhada e defendida por Gilman Farah encontrou resistência. “(…) O sr Edson Aggio se retirou do recinto bastante contrariado”, relata a obra.

Marco Antonio Eberlim e Márcio Della Volpe: heróis que viraram vilões?

A Macaca viveu os anos 1980 sob o signo do ostracismo e dificuldades financeiras. A recuperação viria a partir de 1997 e  tem dois personagens: Marco Antonio Eberlim e Márcio Della Volpe. Antigo aliado de Sérgio Carnielli, Eberlim iniciou sua caminhada no futebol amador de Campinas e com a renúncia de Nivaldo Baldo e a ascensão de Carnielli, assumiu o comando do futebol da Macaca, seja como diretor ou vice de futebol. Como seus resultados mais expressivos, estão os acessos na Série B do Brasileirão de 1997 e do Paulistão de 1998,  as semifinais do Brasileirão e da Copa do Brasil de 2001, a fuga do rebaixamento em 2003, apesar dos problemas financeiros, sem contar a quebra de tabu de 15 anos sem vencer o Guarani, após a vitória por 4 a 2 no dia 28 de outubro de 2002 no estádio Brinco de Ouro.

Sua saída em meados de 2006 diminuiu o protagonismo da diretoria de futebol, recuperada com Márcio Della Volpe. Em dezembro de 2010 foi designado como gestor de futebol ao lado de Miguel Ciurcio, hoje ambos oposicionistas a atual gestão de Vanderlei Pereira.

Na gestão, além do acesso nas Séries B de 2011 e 2014 (Della Volpe já como presidente), a Macaca foi semifinalista do Paulistão de 2012 e vice-campeã da Sul-Americana de 2013. Apesar de não possuir a nomenclatura, na prática, apesar de presidente, Della Volpe exercia a prerrogativa e as funções de um diretor de futebol. Hoje o ex-dirigente luta na Justiça para retornar ao clube após ser acusado pela atual gestão de má conduta administrativa.

Os fatos relatados vividos no Majestoso e no Brinco de Ouro são insuficientes para convencer especialistas em gestão esportiva. Para eles, o diretor de futebol forte e com poderes é algo que faz parte do passado. É o que confere neste portal.

(texto e reportagem: Elias Aredes Junior)

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