Reportagem Especial (Parte II): Especialistas e executivos divergem sobre o papel do diretor de futebol

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Recordar e enumerar os resultados dos dirigentes de futebol do passado não é suficiente para comover especialistas em gestão esportiva. Para eles, este modelo faz parte do passado e há necessidade de se encaixar em nova conjuntura. “Quando você sai de um sistema amador para outra gera mudança. O sistema do futebol é muito arcaico, porque um dirigente estatutário, que tem uma outra profissão e nunca estudou, de repente manda na vida de atletas e demite treinadores como um torcedor apaixonado”, afirmou o especialista em administração esportiva Amir Sommoggi.

Outro especialista na gestão esportiva, Fernando Ferreira, é ainda mais ácido. “Eu não vejo nenhuma vantagem em um dirigente não profissional. A grande questão é que preciso ter um bom executivo de futebol eles comprovaram a eficiência de uma gestão na prática na comparação com aqueles que só fazem na base do amor”, disse. “Não dá para comparar quem apenas dedica parte do dia e não tem conhecimento técnico do assunto e esperar que ele tenha um bom resultado”, completou.

Na visão de Ferreira, o “amadorismo” defendido por alguns atrapalha na condução de setores estratégicos, como as categorias de base. Segundo ele, são recorrentes os casos de presidentes de clubes que repassam o setor para políticos. O que deveria ser um celeiro de novos valores conduzido por gestão profissional transforma-se em algo pernicioso. “E o executivo de futebol não tem ingerência nas categorias de base”, lamentou Ferreira, que esclareceu não ter conhecimento da realidade em Campinas. “Mas é algo recorrente em muitos clubes”, lamentou.

Ferreira afirmou que o problema de continuidade dos executivos de futebol é gerado por causa do choque de culturas entre dirigentes e o gestor contratado. “(Quando fala de dirigente não remunerado) Você vai lembrar de pessoas folclóricas, poucas qualificadas e que estão inseridos no clube de futebol. Bons profissionais fazem melhor. A profissionalização do futebol é algo recente e os problemas é típico de um começo”, analisou Ferreira.

No entanto, os especialistas chamam atenção sobre a necessidade de ajustes para o desempenho da função. “Acho exagerado o salário deles (dos executivos) e fora da realidade de um executivo de uma grande empresa. Poderiam ganhar R$ 40 mil ou R$ 50 mil e não R$ 300 mil. Na Europa já estão em outro patamar porque administram para o todo. Eles precisam melhorar, mas ainda é melhor do que um vice estatutário”, completou.

Os atuais ocupantes dos cargos executivos nos clubes campineiros tem uma visão distinta dos especialistas. Para o gerente de futebol da Ponte Preta, Gustavo Bueno, um fator não exclui o outro. “O diretor do futebol não perde força porque o estatutário tem o conhecimento do clube e a questão da política. Passa a ser um trabalho em conjunto”, disse Bueno, rápido em descrever as funções que estão sob sua alçada. “O executivo de futebol tem a função de estruturar os departamentos, criar normas e procedimentos, agregar ferramentas novas, além do relacionamento com profissionais de outros clubes”. O superintendente de futebol do Guarani Marcus Vinicius Beck Lima foi procurado pela reportagem do Só Derbi, mas não tinha retornado. Assim que acontecer a declaração, esta matéria será atualizada.

(texto e reportagem: Elias Aredes Junior)