Uma reflexão sobre a necessidade dos jornalistas esportivos preservarem sua saúde mental. E a luta contra os valentões do teclado

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Escrevi sobre esse assunto recentemente e volto ao tema. A cada dia que passa, jornalistas são acometidos por problemas de estresse, depressão, ansiedade, síndrome do pânico. E até tentativas de suicídio.

Agente causador? O publico consumidor. A ausência de uma educação midiática (e formal) faz com que posições ou deslizes técnicos transformam profissionais de imprensa em alvo de ataques, agressões e chacotas. Recentemente, o meu amigo Carlos Cereto mudou o numero de telefone porque se posicionou contra a contratação de Robinho pelo Santos. Devastador.

Vivo em um cosmo muito menor. E sinto as consequências. Da pior forma possível.

O futebol de Campinas está corroído. Degradado. Desde 2004, não temos um dérbi na divisão de elite do futebol brasileiro e as duas equipes parecem ser coadjuvantes na Série B do Campeonato Brasileiro.

Se o quadro está ruim, o que você deve fazer? Criticar, fiscalizar, propor ideias e soluções. Aqui, tudo vai  no sentido contrário. Os meios de comunicação e as redes sociais foram invadidas por uma hora de pessoas sem nenhum apreço pela formação acadêmica jornalística. São ignorantes e exibem orgulho disso.

Pior: consideram salutar atacar, tripudiar, agredir quando erros são apontados e passar o pano quando minimamente as coisas melhoram.

Não sou super herói. Sou um profissional da área de comunicação. Que erra. Como errei na terça-feira. Deixei preparado o texto das atuações do Guarani e até aquele momento o jogo estava empatado. Renanzinho fez o gol da vitória e não atualizei o texto de abertura. Anselmo França e Sueli Santiago, duas pessoas cordatas, educadas e de boa formação me alertaram do problema. Corrigi. Fiz post no Só Dérbi me desculpando pelo equívoco. Escrevi no grupo de Whatsapp feito para torcedores do Guarani.

Não adiantou. Meu zap foi invadido por uma batalhão transloucado de pessoas grosseiras, estúpidas, desprovidas de educação e formação. Por coincidência (ou não) todos homens. A exceção foi o torcedor Renato Mello que demonstrou sua decepção pelo ocorrido. Ouviu minhas explicações e entendeu.

O restante não. Do mesmo jeito que fizeram por causa de uma pergunta que fiz para Elias Carioca a respeito da estrutura do Guarani e do Athlético-PR. Pois é. O jogador foi embora e os problemas continuam. Enquanto isso, precisei conviver dias e dias com ameaças até contra minha família.

Não pensem que são apenas torcedores do Guarani. Torcedores da Macaca, também ausentes de bons modos e decência já atacaram este que vos escreve e a outros colegas. Apenas por causa de perguntas e opiniões. Não é difícil entender porque tantos profissionais de imprensa são acometidos por problemas de saúde mental. Sou um deles. Faço tratamento. E por isso quero que você saiba: para preservar a minha condição mental os comentários no site estão bloqueados. Por tempo indeterminado. E os comentários no Facebook leio muito raramente. Se na minha casa eu não permito e não ouço gente grossa, estúpida, mal educada, truculenta, autoritária e adepta de todo e qualquer tipo de violência, por que eu preciso ler o que diz esse tipo de gente? Se é que é gente.

Não inventei a roda. Sigo apenas o que fazem mestres da profissão como Juca Kfouri, que não permite mais comentários no seu blog no UOL. E já disse N vezes que não frequenta redes sociais. Faz bem.

E sabe o que é interessante? Esses gladiadores virtuais quando perguntados e inquiridos sobre o que pretendem para o seu clube, são incapazes de raciocinar. São incompetentes para formular uma frase com começo, meio e fim. Desprovidos de uma conceitos que formulem uma ideia que seja.

Talvez seja por isso que muitos torcedores do Guarani sejam adeptos de trabalhos jornalísticos muito mais focados em bordões e expressões sem nexo do que em algo que tente qualificar o debate.

Tenho ligação com Ponte Preta e Guarani. Minha vida e trajetória estão ligadas a esses clubes. Renunciar a cobertura e a análise desses dois símbolos campineiros seria renegar o que fiz e vivi.. Só que não posso aceitar bovinamente ter a mente dilapidada dia após dia por insultos e xingamentos de gente incapaz de conviver em sociedade. No fundo, no fundo, são estas pessoas, que se anunciam paladinas da razão que afundam o futebol campineiro dia após dia. E que muitas vezes, por medo, recebem a conivência de muitos dirigentes e integrantes da imprensa. Enquanto a evolução da convivência em sociedade não acontece eu me preservo. Porque a vida lá fora continua.(EAJ)