Vadão, Beto Zini e o bilhete fora de hora

1
1.787 views

Estamos no final da década de 1990. Oswaldo Alvarez era o técnico do Guarani. Sobrevivente. Permaneceu por um ano no comando e mereceu até um bolo por parte do extinto Diário do Povo. Exercia seu trabalho, escalava os times, tinha total controle sobre o vestiário. Exercia diplomacia para evitar a interferência do presidente Luiz Roberto Zini.

Beto Zini era da antiga escola de dirigentes. Astuto, ótimo negociante e fissurado em futebol. De vez em quando não aguentava e dava seus palpites.

Assistia aos jogos e, em um tempo que a comunicação por rádio era permitida, não pensava duas vezes e sugeria substituições e até esquemas táticos. Vadão, educado e cordato, conseguia driblar as sugestões do chefe. Era surpreendido em determinadas ocasiões.

Em jogo pelo Campeonato Paulista, fora de casa, a delegação bugrina estava completa. Inclusive com os auxilares Estevam Soares e Gersinho, que trocavam ideias com Vadão e recebiam as sugestões de Zini pelo rádio.

Vadão pensou em um plano. Não podia falhar. Silencioso e com voz sussurrante combinou com os dois auxiliares que eles não entrariam no estádio. Ficariam em um bar, na praça, Shopping Center… Menos no estádio. Haveria um teatro ao adentrarem ao vestiário, mas ao primeiro vacilo dos dirigentes, os auxiliarem tomariam o rumo da rua.

Tudo ocorreu dentro do script. Vadão estava em êxtase. Do banco de reservas comandava o time e sabia que o rádio não iria tocar. Ali era seu reino, sua casa, seu aconchego. Os palpites não teriam vez.

A alegria era tamanha que nem percebeu quando o quarto arbitro aproximou-se com papel dobrado, na palma da mão:

– Professor, recado para o senhor!

Ao abrir o papel surrado, tipico para absorver gordura de salgadinhos, a letra era conhecida. Ficava a lição: ninguém parava Beto Zini, que do alto da arquibancada sorria ao verificar sua ascendência infalível.

Resultado? Pouco interessa. O emprego de Vadão estava garantido. Naquela época, era um troféu de valor inestimável.

(texto de Elias Aredes Junior)

1 Comentário