Análise Especial: por que a vaidade dos dirigentes é o principal adversário do Guarani na Série B

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Como explicar a atual situação do Guarani na Série B do Campeonato Brasileiro? Como compreender e aceitar a presença da equipe na zona do rebaixamento? De que forma assimilar que uma equipe sexta colocada na segundona do ano passado e participante das quartas de final do Paulistão apresente um futebol tão pobre e sem conteúdo?

Alguns argumentos são faceis de destrinchar e encontram-se a vista de todos. O time é limitado, sem qualidade e a montagem do elenco é um acolchoado de retalhos. Zagueiros sem qualidade técnica ou sem velocidade, laterais sem aptidão ofensiva, volantes incapazes de dar um passe de dois metros e atacantes sem inspiração. E a incoerência suprema: o artilheiro na temporada, Lucão do Break, com quatro gols, está no banco de reservas.

O que acontece?

Ele cometeu um ato de indisciplina?

Pisou na bola?

Desafiou o comando do clube?

Neste caso, excluí-lo do banco de reservas é punir o próprio clube, dada a falta de opções. Aplicar uma multa pesada seria a melhor solução.

Entretanto, caso o ato seja grave, então é melhor rescindir o contrato do que criar uma falsa expectativa na torcida, que não aguenta a ineficiência dos atacantes bugrinos. Uma incompetência cujo simbolo maior é Nicolas Careca.

Esforçado, lutador, com consciência tática aguçada mas que não balança a redes. Sua trajetória é semelhante a de Nena, atacante que jogou no Brinco de Ouro em 2013 e que era um dos preferidos do então técnico Tarcisio Pugliese. Mas que não marcava gols.

Todos esses fatos citados seriam suficientes para explicar a derrocada bugrina. Mas não é. A semente e a raiz da crise bugrina atende por um nome: vaidade.

Pela definição do dicionário, vaidade é a valorização que se atribui à própria aparência, ou quaisquer outras qualidades físicas ou intelectuais, fundamentada no desejo de que tais qualidades sejam reconhecidas ou admiradas pelos outros. A personificação da vaidade na história está no deus grego Narciso.

De acordo com história contada, Narciso era filho de Cefiso, o deus do rio, e da ninfa Liríope.

Antes de ele nascer, seus pais procuraram um oráculo, que lhes revelou uma profecia sinistra: Narciso teria uma vida longa e feliz, desde que jamais olhasse a própria imagem. É bom que se diga: felizmente, não havia espelhos na Grécia Antiga…

Narciso nasceu, cresceu e se tornou o mais belo de todos os rapazes. Ele atraía a cobiça e a a inveja de mulheres, homens e até das ninfas, como Eco, que ficou perdidamente apaixonada por ele.

Mas além de belo, Narciso era muito orgulhoso e vaidoso. Fazia questão de desprezar o amor e a atenção que lhe eram dedicados.

Magoadas, as ninfas pediram aos deuses que o castigassem. Para isso, a deusa Nêmesis (que significa “inimigo” ou “destruição”) o condenou a se apaixonar pelo próprio reflexo. E não teve jeito: quando Narciso viu sua imagem refletida na lagoa onde vivia a ninfa Eco, apaixonou-se perdidamente por si mesmo.

Encantado com a própria beleza, o jovem permaneceu na beira do lago dias e noites sem fim, sem comer ou beber nada. Com o tempo, foi definhando, definhando e acabou morrendo ali mesmo, apaixonado pelo seu reflexo.

Esta história ou lenda, é uma bela forma para explicar o que acontece com os atuais comandantes bugrinos, especialmente o presidente Ricardo Moisés e o Superintendente Executivo de Futebol, Michel Alves.

Eles podem negar de pés juntos. E é direito deles.  A postura, os atos e as atitudes mostram que, assim como Narciso, os dois dirigentes ficaram embriagados pelo parcial sucesso proporcionado pelo sexto lugar na Série B e pelas quartas de final do Paulistão.

Estes dirigentes confiaram demais no próprio taco. Acreditaram que aconteceriam naturalmente. E futebol não é assim. Eles olham para a própria imagem e quem definha é o futebol do Guarani. E tal definhamento tem como origem a remontagem do elenco. Uma remontagem conduzida por Michel Alves. Então, se o elenco falha no gramado, a responsabilidade é dele.

Ainda há tempo de recuperação. Algo urgente precisa ser feito: Que Michel Alves e Ricardo Moisés parem de repetir a atitude equivocada de Narciso. Que parem de olhar para o espelho venenoso da bola. É hora de humildade. Admitir os erros e alterar a rota. Não somente com a contratação do  novo técnico. Mas com uma postura nova com a torcida. Diálogo acima de tudo. Podemos afirmar: está ficando tarde demais. O Guarani luta contra o relógio. E não pode ser derrotado pelo tempo.