Lute contra o preconceito e evite marcar um gol contra no jogo da vida

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Livro controverso e perene em sua popularidade, a Bíblia Sagrada tem trechos intrigantes e com capacidade de emitir aprendizado. O livro de Matheus, no seu capitulo 12, versiculo 34 tem um texto impecável: “Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração”. 

É uma bela declaração de como nosso espirito pode ser invadido por conceitos ruins, maléficos e de como o processo de mudança é algo que depende apenas de nós.

 O futebol e o esporte brasileiro são exemplos acabados de como precisamos evoluir como povo ou como nação. Nos estádios de futebol são comuns os xingamentos e os insultos contra homossexuais e atos de racismo viraram uma triste rotina.

Pode ser no jogo de Copa Libertadores; pode ser um confronto do Cruzeiro diante do Sampaio Correa ou em um clássico transmitido para todo o Brasil como Corinthians e São Paulo. Sorte da sociedade e do próprio futebol que as instituições que realizam tais torneios  começam a advertir ou punir quem utiliza a arquibancada para despejar os seus recalques. É preciso ir além. Mas existe um começo que explica tal estado de coisas. 

No cotidiano, o procedimento comum não é você apresentar argumentos e dados que mostrem que seu time é o melhor do que o principal rival. A arma que você tem na mente é tripudiar, xingar, depreciar. E com  preceitos negativos contra minorias ou grupos étnicos que são vitimas de preconceitos. A arquibancada em cores vivas na vida real.

 Que ninguém pense que o jornalismo esportivo fica a salvo disso. Infelizmente, mesmo que inconscientemente ou involuntariamente, somos um canal para espalhar ideias e conceitos que mais atrapalham do que ajudam o futebol.

Muitos de nós, jornalistas esportivos, repudiamos a ciência, o estudo, o conhecimento e a capacidade de verificar as mutações deste esporte chamado futebol. Pior: analisamos os insultos, o estádio transformado em selva sem propor nada para que a civilização tome a dianteira. Achamos que o jornalismo esportivo é só entretenimento. E a derrota cresce cada vez mais.

 Ato contínuo, nós, jornalistas esportivos, consideramos que toda torcida organizada é violenta. Não é. Não sou eu que digo isso. É o professor Mauricio Murad, que há muitos anos estuda o assunto e constatou que de cada 100 torcedores, apenas seis são violentos. Falta percepção da crônica esportiva, falta ação e planejamento das forças de segurança pública para entender tal conjuntura.

 Enquanto isso, utilizamos a boca para espalhar preconceitos. Mesmo que de maneira informal.

As redes sociais estão agitadas nos últimos dias em virtude de um narrador de automobilismo ter falado fora do ar que torcedores flamenguistas serem duros e favelados.

Mesmo que seja uma brincadeira, ele apenas externou uma percepção equivocada e preconceituosa formulada pela própria sociedade. Pior: todo time tem um estereótipo em torno de si . Invariavelmente negativo. Não deixa de ser uma forma de preconceito.

 Não, não é fácil derrotar o preconceito que existe em cada um de nós. Temos que batalhar contra anos e anos de um aprendizado que cultiva e normaliza a violência, o autoritarismo,  o machismo, a homofobia e o racismo. Falta de amor ao próximo na veia.

 Para você que acompanha este texto e diz que tais argumentos se constituem em mimimi e papo furado eu encaminho a proposta de um raciocínio.

 Qual seria sua reação se um amigo negro fosse agredido verbalmente ou fisicamente na sua frente?

 Qual atitude adotaria se sua mulher ou amiga fosse vitima de assédio sexual e moral dentro de um estádio de futebol?

 O que você faria se tivesse um amigo ou amiga que fosse agredido fisicamente apenas e tão somente por conta de sua orientação sexual?

Tenho certeza que reagiria.

Pediria justiça.

Exigiria punição exemplar.

Só que esse espiral de violência é avalizada muitas vezes pela arquibancada. O que você faz? Reage contrariamente? Nada disso. Canta junto a música que deprecia o homossexual ou faz coro do insulto racista. Do que adianta proteger o individual e avalizar a depreciação do coletivo? 

Não adianta ficarmos inconformados com aquilo que está próximo e ignorar todo o processo que ocorre ao redor e que produz o estado de calamidade.

 É preciso de todas as formas cerrar fileiras contra canticos racistas nas arquibancadas e batalhar por mais espaço para negros nos gabinetes e nas estruturas de poder do futebol, espaços tomados pelo racismo estrutural. Entende porque você vê poucos negros como técnicos, presidentes e dirigentes? Compreende porque o xingamento de Macaco transformou-se em algo usual na atualidade? Compreenda, aprenda, resista, lute.

 Lute para fazer que o futebol não seja um espaço de violência contra as pessoas com diversas orientações sexuais. O futebol tem que ser espaço de inclusão e nunca, jamais de eliminação. Não brinque de Deus. Fique atento ao que sai de sua boca.

 Ás vezes uma frase que você considera inocente (e não é!) pode ser um autêntico gol contra no jogo da vida. (Foto: Fernando Torres-CBF)