Responsáveis e protagonistas do vexame bugrino contra o São Bernardo

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Uma derrota acachapante. Inexplicável. Humilhante. São 10 pontos na classificação geral, mas o tamanho da vergonha imposta ao torcedor do Guarani não há como medir ou estipular. Perder de 5 a 1 em casa para uma equipe que não faz parte do G-40 do futebol brasileiro é um resultado que entra pela porta dos fundos da história do Guarani.

Enumerar os culpados é fácil.

Até tedioso.

Começa pelos sete integrantes do Conselho de Administração, que infelizmente parecem muito mais focados na eleição programada para este ano do que no planejamento da equipe.

Convenhamos: antes do jogo desta quarta-feira, mesmo com as duas vitórias seguidoa, a derrota para o São Bernardo e a campanha na Série A-1 do Paulistão estão muito aquém do esperado. E isso passa pelo planejamento feito pelo Conselho de Administração e executado pelo Superintendente de Futebol, Rodrigo Pastana.

Que também tem sua parcela de responsabilidade no processo.

Ora, se ele foi, com razão, elogiado na época das contratações para a Série B, nada mais natural que seja convocado a justificar porque tantos jogadores não renderam aquilo que se esperavam dele.

Como exemplo podemos citar o lateral Lucas Marques e o volante Lima, além de Bruno e Yago. O índice de erros muito alto em um campeonato curto, perigoso e traiçoeiro.

Agora, tomar cinco gols também deve-se destinar a cota de responsabilidade e de fracasso aos jogadores.

São eles que entram em campo e defendem as cores do Guarani. E a atuação deles foi vergonhosa. E digo na parte técnica e emocional. Afinal de contas não dá para aceitar que uma equipe da primeira divisão paulista tenha dois jogadores expulsos do seu setor defensivo.

Parte emocional abalada?

Ausência de concentração?

Descarto do rol de possibilidades a parte de uma possível falta de comprometimento. Impossivel. Se isso fosse verdade, o Guarani sequer teria as vitórias contabilizadas.

O quebra cabeça do fracasso do Brinco de Ouro tem que ser completado com o técnico Mozart.

Não podemos ser levianos e dizer que é um profissional que não serve para nada. Afinal, o mesmo Mozart faturou 33 pontos no segundo turno da Série B do ano passado e fez o Guarani ficar com 51 pontos quando o rebaixamento parecia inevitável.

Ou seja, competência ele tem. Pensei, refleti, cruzei fatos e contextos e alcancei uma tese que talvez explique porque Mozart não conquiste a confiança do torcedor bugrino.

Mozart é um profissional exemplar. Tem belíssimas folhas prestadas ao futebol brasileiro. Mas esse talvez é o seu principal “problema” no Guarani.

Tentarei explicar.

Quando foi contratado no ano passado, Mozart foi chamado para fazer a função de um bombeiro, de apagar um fogo que poderia se alastrar em todo o imóvel.

O incêndio foi debelado e controlado. Digamos que o Guarani fosse uma casa e o proprietário tivesse gostado tanto desse bombeiro que lhe pedisse para cuidar do imóvel que está desocupado.

Aos poucos, o “bombeiro” faz o seu trabalho corriqueiro, de manutenção, mas não presta atenção no armário embutido cheio de cupim e o excesso de pó presente na sala. Ele é até cumpre a função, mas não tem qualquer envolvimento emocional com o imóvel. Ele faz sua função e pronto.

Este é o ponto chave. E antes da argumentação um esclarecimento: existe uma diferença entre o futebol que a gente deseja e a modalidade como ela é. O conceito é estendido ao clube.

Existem clubes que convivem numa boa com técnicos profissionais e equidistantes.

No Guarani não. Técnico para cair nas graças do torcedor bugrino e até da instituição precisa mostrar envolvimento, amor, conexão e zelo pelo Guarani Futebol Clube.

Quando caiu para a Série A-2 em 2001 após não sair de um empate sem gols com a Portuguesa Santista, Carlos Alberto Silva, multicampeão, chorou copiosamente.

No vice-campeonato da Série B de 2009, o então técnico Oswaldo Alvarez vibrava e se emocionava a cada gol. Dois anos depois, o Guarani só não foi rebaixamento porque tinha um torcedor sentado no banco de reservas, o ex-lateral Giba.

Você pode alegar que Marcelo Chamusca subiu na Série C em 2016 com uma postura profissional. Mas não se esqueça de que Fumagalli era um torcedor com chuteiras no gramado. O torcedor se sentia representado por ele.

Em 2018, por conhecer e saber o que era o Guarani, Umberto Louzer entrou de cabeça na rotina da agremiação e assumiu a bronca em vários momentos. Foi premiado com o título da Série A-2 e a nona colocação da Série B.

Para terminar, tenho que citar Daniel Paulista. Evidente que ele não teve o envolvimento emocional dos outros profissionais citados, mas encarnou o espirito para enfrentar o dérbi contra a Ponte Preta. Ficou abraçado ao projeto até o ultimo fio de cabelo.

Repito: Mozart é ótimo profissional. Correto. Honesto. Tem seu valor. Mas para dar certo no Guarani é preciso algo a mais. É preciso viver, sentir, chorar, se emocionar com a camisa verde e branco.

Tomar cinco gols do São Bernardo é um sintoma de que algo precisa ser corrigido. No Guarani, profissionalismo é bom. Mas não basta. É preciso amor.

(Elias Aredes Junior com foto de Thomaz Marostegan-Guarani F.C)