Uma reflexão necessária: por que você vai ao Estádio Moisés Lucarelli? Leia e reflita

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Separe um tempo ou um final de tarde para pedir uma cerveja gelada, um churrasco ou tira gosto. Converse sobre a vida, o tempo, as lembranças do passado, os parentes amados, os ex-amigos ou relembre quem sempre lhe fez bem.

Como a Ponte Preta. A agremiação está sempre ali. Na vitória, derrota, nas armadilhas da vida. Pense: porque você vai ao Moisés Lucarelli? O que leva você a separar um tempo no final de semana para dirigir-se ao estádio fundado em 12 de setembro 1948? Qual o combustível que provoca tanta emoção e paixão?

Elvis? Léo Naldi? Ramon? Jeh? É parte da moldura, mas não explica.

Na atualidade, com tantos meios de comunicação a disposição, os lances não são perdidos no tempo. Na Série A-2, mais ainda. As transmissões feitas pelo You Tube ficam armazenadas e existe a chance de ouro de rever os gols e os lances quantas vezes você quiser.

Quero dizer de modo claro: o futebol é o álibi, mas jamais será a razão do Majestoso fazer parte de sua vida.

Para entender a multidão presente naquele espaço é necessário revisitar a memória. Na atualidade, o silêncio impera nos pontos e no interior dos ônibus de transporte coletivo. Não existe durante as viagens o diálogo capaz de aprofundar relações e criar vinculos. Virou um meio de transporte. Só.

Vizinho? Se pedir o testemunho de alguém que empresta algum objeto para quem mora do lado certamente será tachado de maluco. Até na escola vimos a competição sendo incentivada. Quem senta na cadeira ao lado não é amigo, é concorrente. Na atual geração, o diploma na mão é sinal de cada um para o seu canto e fim de trajeto.

Percebeu? Com tanta tecnologia somos forjados para a solidão.

Querem mais uma prova? Quantas vezes na semana você liga para os seus melhores amigos? Eu sei, poucas vezes. Precisa encontrar tempo para família, filhos, profissão, afazeres domésticos e no final é preciso abrir mão de um bem precioso: a convivência humana.

Este é o pulo do gato. Em tempos dominados por Arenas voltadas a elite ou espaços climatizados com ares de consumidor, o Majestoso exala humanidade. Tem a pressão do resultado? Tem. Existe revolta quando há um placar adverso? Não há duvida.

Mas existe o abraço afetuoso, a conversa descompromissada, a paixão pelo tempo, a possibilidade de conviver com outra pessoa e gostar dela pela simples razão dela ser o que ela é. Na saída do jogo, seja qual for o resultado, uma cerveja gelada antes de se despedir dos amigos e a volta para casa, a pé, de carro e de ônibus. De preferência, acompanhado dos amigos.

Você quer no Majestoso para ver um jogo e sorrir com a vitória da sua Macaca. Só que quem sai de casa nesta Série A-2 sabe que não existe nada melhor do que o calor humano. Não há sensação melhor do que viver uma alegria conjunta, ao lado de quem ama o escudo que todos veneram. Muitos têm arenas. Com luxo. Glamour. Mas o estádio Moisés Lucarelli tem um patrimônio inegociável: Gente. De corpo e alma. Em um mundo brutalizado, é o que importa. O resto é acessório.

(Elias Aredes Junior-foto de Karen Fontes-Pontepress)