Uma reflexão sobre os desafios da imprensa esportiva em Campinas no Século 21

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Passei do tempo de ostentar pudores. De evitar abordar assuntos por medo de suscitar reações negativas. A troca de ideias é fundamental tanto para o fomento da democracia como na construção de um mundo melhor. O Só Dérbi nunca se furtou de tal procedimento. E hoje chegou a hora de analisarmos um participante fundamental no mundo do futebol: a imprensa. Sites de notícias, portais, rádios, televisões e jornais são responsáveis por levar informação aos bugrinos e pontepretanos.

Acompanham as equipes em instantes decisivos. Esteve em peso na decisão da Copa Sul-Americana em 2013. Não arredou pé do Guarani contra o ASA (AL) em Arapiraca, nas quartas de final da Série C do Brasileirão. Cumpriu com sua missão. Entretanto, não é incomum observar nas ruas de Campinas um clima de insatisfação e inquietação com o nosso trabalho. Nem é pelo fato de cronista x ou y ser bugrino ou pontepretano. Nada disso. São acusações de desequilíbrio editorial ou de que os lançamento de dardos de reclamações. Dos dirigentes, então nem se fala. No Guarani, um ex-diretor disse em alto e bom som na sala de imprensa que construiria um muro de concreto para isolar os jornalistas. Na Ponte Preta, os ruídos de comunicação são constantes. O que acontece? Onde está a solução? Como resolver tal questão?

Qualquer jornalista racional aceita tais críticas com humildade e faz uma reflexão. Inclusive este Só Dérbi. Existem reações destemperadas? Claro, até porque somos humanos e as críticas quando resvalam para o lado pessoal produzem consequências desagradáveis. Se jogador não aprecia (com razão), o profissional de imprensa não é diferente. Tanto nós que empunhamos o microfone ou o laptop ou quem senta na arquibancada cometemos erros que ajudam (e muito) para que muitas vezes o ruído seja estabelecido e algumas limitações aconteçam na execução do trabalho.

Os desafios financeiros

A questão primordial é financeira. Os meios de comunicação na atualidade, em sua maioria, não tem o poderio financeiro em Campinas que tinham anteriormente. Seguem os clubes em ocasiões especiais, mas existem dificuldades de vários veículos de comunicação para o dia a dia. Motivo: existe uma dificuldade de expandir ainda mais o seu portifólio de patrocinadores. Como isso é possível se Campinas é uma região rica, produtiva e com grande potencial financeiro? A resposta está na alteração da configuração da preferência do torcedor campineiro.

Explico: no Rio Grande do Sul, tanto as rádios e os jornais locais acompanham Grêmio e Internacional em todos os lugares. Por que? De acordo com a pesquisa do Ibope, divulgada em 2014 pelo jornal Lance!, 40% dos gaúchos são Colorados e 39,6% são gremistas. Ao incutir a margem de erro no diagnóstico, dá em torno de 4,4 milhões de torcedores para cada lado. Em Minas Gerais, o Atlético Mineiro, de acordo com a mesma pesquisa tem em torno de 6.5 milhões de torcedores e o Cruzeiro conta com 5,6 milhões. O Corinthians é o “forasteiro” mais exitoso com 900 mil torcedores. Ou seja, tanto para a imprensa mineira como a gaúcha, existe público disposto a consumir notícias do clube do coração. A “invasão estrangeira” não provoca um prejuízo ao ponto de tirar audiência e investimento.

Corinthians: o adversário comum

durante o jogo Cruzeiro/MG x Corinthians/SP, realizado esta tarde no Mineirao, 38a. rodada do Campeonato Brasileiro de 2016. Juiz: Wagner Reway - Belo Horizonte/MG/Brasil - 11/12/2016. Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Com títulos e um marketing agressivo, o Corinthians ganha adeptos em todo o Brasil. Campinas não é diferente

Em Campinas, existe um quadro problemático. Diversas pesquisas já afirmaram que a maior torcida da cidade não é de Ponte Preta ou de Guarani e sim do Corinthians, que conta com aproximadamente 20% dos adeptos. Ou seja, são aproximadamente 220 mil pessoas que não querem saber de Ponte Preta e Guarani e ficam mais ligados no noticiário nacional do que no local. Para piorar o quadro, estima-se que palmeirenses, santistas e são paulinos tem um acervo considerável de adeptos. Segundo as pesquisas referentes a torcidas de futebol, o Brasil tem de 19,5% a 23,4% de pessoas que não querem saber de futebol. Se transportarmos essa conta para Campinas chegamos a conclusão que outras 280 mil pessoas não querem saber das noticias de Ponte Preta e Guarani e do próprio futebol.

Consequência prática: considero que dos 1,1 milhão de habitantes, quase que 50% não está ao alcance dos times locais. Isso diminui o espectro de audiência e a possibilidade de captar anunciantes dispostos a pagar altas somas que possibilitem investimentos perenes e constantes. Automaticamente, isso reflete-se em tamanho de equipe, infra-estrutura, fôlego para expandir material especial entre outros pontos. Em resumo: o torcedor deveria entender que neste caso a imprensa campineira não é vilã e sim vitima da conjuntura de uma cidade que saiu da condição de província para protagonista de uma região metropolitana.

O principal desafio: como atrair o jovem torcedor a consumir notícias?

Para o jovem que torce para o Flamengo ou qualquer clube brasileiro, o computador virou um acessório primordial para acompanhar futebol.
Para o jovem que torce para o Flamengo ou qualquer clube brasileiro, o computador virou um acessório primordial para acompanhar futebol.

Outro ponto deixamos a desejar: como atrair o jovem de até 24 anos, considerado o principal vetor de consumo para o setor publicitário e hoje com outras formas de consumir notícias?

Sejamos sinceros: para este público, as redes sociais e a internet não são acessórios na obtenção de informação e sim protagonistas. O rádio, por exemplo, que monopolizava a atenção de todas as faixas etárias nas décadas de 1990 e 1980 hoje tem dificuldades para captar o sentimento deste público: programa descontraído ou com maior rigor jornalístico? Boletins longos ou curtos? Monólogo de comentaristas ou debate quente? Incentivar a transmissão pelo Facebook ou não? Abordar futebol europeu, esportes norte-americanos ou deixar tudo para lá? São dúvidas que me atormentam encontram-se na cara de todos. Não tenho as respostas, especialmente porque estes jovens ávidos por conhecimento e expandir seu horizonte formulam uma pergunta diferente a cada dia.

Essa reflexão deveria ser prioridade nos clubes e nos meios de comunicação de Campinas. Esses garotos é que serão a audiência cativa de amanhã e aqueles que vão consumir o programa de sócio torcedor e encher as arquibancadas. E aí? O que devemos fazer? Qual a saída?

Uma imprensa forte, independente e apartidária é fundamental na construção de uma sociedade democrática. Em Campinas, é a mola mestra para sustentar o interesse e a mobilização dos torcedores, em virtude dos veículos de âmbito nacional quase ignorarem os acontecimentos no Brinco de Ouro e Moisés Lucarelli. Só que sem discutir e refletir sobre nossos problemas e desafios a tendência é que no futuro novas dificuldades apareçam no horizonte. Voltaremos ao tema.

(análise feita por Elias Aredes Junior)