Análise Ponte Preta: trocar o treinador apenas ajuda a esconder problemas estruturais do futebol profissional. Leia e entenda

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A Ponte Preta perdeu um jogo ganho para o São Paulo. Falhas individuais custaram os três pontos. A torcida está chateada e revoltada. Quer porque quer a demissão do treinador. Escrevo por volta das 17h e por enquanto não há sinal de mudança na comissão técnica. Pode acontecer? Não descarto nenhuma hipótese.

Convenhamos: Kleina dá motivos para a tomada de decisão. Afinal de contas, suas substituições contra o São Paulo não surtiram efeito e a retranca deixou campo para o São Paulo. O time é limitado? Sim. Poderia ser de outra forma? Sim, poderia. Existem times que, mesmo diante da adversidade e com um esquema cauteloso exibiram uma metodologia mais atraente de futebol. Apesar dos jogadores, ressalte-se.

Bem, se o quadro é tão desolador ( e é) por que a mudança não é feita na Comissão Técnica? Porque Marco Antonio Eberlin, um claro entendedor de futebol, não adota o caminho corriqueiro ?

Neste caso, vamos caminhar pelo campo das hipóteses.

O primeiro item é revisitar o caminho de Eberlin no mundo da bola. Em seu período como diretor de futebol nunca foi de efetuar trocas incessantes. Pelo contrário. Dava tempo, incentivava e dava respaldo ao trabalho. Foi assim com Vadão, Marco Aurélio Moreira, Nelsinho Baptista, entre outros.

Você pode rebater de imediato e dizer que o trabalho de Kleina não justifica o apego ao trabalho. Bem, aí vamos trabalhar com a outra hipótese. Que está fincada na realidade.

Torcedor, considero que é uma boa medida recordar as entrevistas recentes de Eberlin. Ele nunca escondeu de ninguém de que a instituição estava em situação calamitosa. “A Ponte busca recursos de diversas formas. Felizmente ou infelizmente vão existir parcerias com empresários e investidores, porque a situação financeira do clube é caótica. Não é nenhum mecenas ou dirigente que vai saldar um, dois, três milhões de reais, como antigamente. Hoje o buraco é mais embaixo. A Ponte necessita algo na ordem de R$ 20 milhões para se colocar de maneira correta. Os outros números maiores, que eu estimo passarem de R$ 200 milhões, só posso passar depois de auditoria dentro do clube, que também está acontecendo”, disse o dirigente no dia 10 de janeiro.

Raciocine. Pense. Quem está em dificuldade financeira, claramente encontra obstáculos para cumprir os seus deveres corriqueiros e tem sua situação piorada quando os imprevistos aparecem. Uma demissão de Gilson Kleina poderia resolver o quadro no gramado em curto prazo, mas traria consequências dramáticas na parte financeira.

Por que não basta mandar embora e pronto. Assim como em qualquer empresa, a Ponte Preta tem que cumprir com suas obrigações na hora de demitir. Precisa quitar obrigações trabalhistas, quitar atrasados e deixar tudo em ordem. Caso contrário, o risco de ação judicial é enorme. Gigantesca. E aumenta o passivo, que na verdade ninguém tem a mínima noção do que se trata. Ou a galera já esqueceu do passivo gigante gerado a partir do Brasileirão e que gerou ações trabalhistas? Pois é. 

Você que é pontepretano e tem viés oposicionista deve dizer: “Ué, então que se pegue dinheiro emprestado para quitar tais obrigações e mande embora”. Pois é. Não é tão simples. Porque emprestar hoje significa comprometer o amanhã. Ficar em dívida com outra pessoa. Foi esse tipo de pensamento que deixou o clube pendurado em cima de uma única fonte de renda emergencial e agora comprometeu o presente e o futuro.

Qual a saída? De que maneira fazer com que a Ponte Preta seja mais confiável no gramado?

Tudo é respondido em uma palavra: radicalização do trabalho integrado. Ação conjunta de todos os departamento profissional de futebol para definir uma forma de jogar e automaticamente diminuir a dependência de uma cabeça, a do treinador. Não invento a roda. O Athletico Paranaense faz isso com maestria.

No atual quadro, qualquer decisão é prejudicial. Mandar Kleina embora é jogar fora 45, 50 dias de trabalho. Ficar com o treinador é viver na corda bamba e com perspectiva reduzida de evolução.

Mais do que treinador, o problema da Ponte Preta é estrutural. Sem atacar tais preceitos, qualquer um andará em círculos. Seja quem for.

(Elias Aredes Junior- foto de Álvaro Junior-Pontepress)