Exclusiva: Ao Só Dérbi, Doriva faz balanço de segunda passagem pela Ponte Preta

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Horas depois de ter sido comunicado da demissão, Doriva concedeu entrevista exclusiva ao Só Dérbi para analisar sua segunda passagem pela Ponte Preta. Contratado no final do março, o ex-volante só estreou em 11 de abril, enquanto estava impossibilitado de participar do Troféu do Interior por ter treinado o Novorizontino no Campeonato Paulista.

Enquanto isso longe de área técnica, trabalhava nos bastidores em busca de reforços e tentava, por meio da lábia, convencer ex-comandados a acreditarem no projeto da Macaca. As vindas do volante Paulinho, titular absoluto nesse período, e o atacante André Luís, autor de dois gols no dérbi, são dois bons exemplos.

Mesmo no início de trabalho, você chegou a pensar que corria risco depois da derrota em São Luís?

Doriva: “Não, fui pego de surpresa. Esperava iniciar e terminar o trabalho na Ponte, mas isso foi interrompido logo de cara. Infelizmente, o futebol é imediatista, temos que ter resultados o mais rápido possível e isso não aconteceu. Acredito que tenhamos oscilado, conseguimos bons resultados fora de casa, mas no Moisés Lucarelli não vencemos. Se isso tivesse acontecido, teria dado equilíbrio para continuar. A diretoria resolveu abortar o trabalho e mudar o comando”.

Como e quando você foi comunicado da demissão?

Doriva: “Foi na tarde de terça-feira. Assim voltamos de São Luís, fui chamado em reunião com a diretoria e recebi a informação de que estava fora. A decisão é deles e ficamos chateados. No futebol, temos que entender que as mudanças são naturais dentro de um processo de trabalho. Demitir treinador já é cultura do futebol brasileiro. Se não houver resultado imediato, já há mudança”.

Qual análise você faz do seu trabalho ao longo dessa passagem?

Doriva: “Eu vejo que a gente precisa trazer atletas decisivos. O elenco é jovem e falta poder de decisão. O time cria, mas não tem isso. Os jogadores são qualificados, mas sem capacidade de decidir. Falta peças para qualificar, ajudar e encorpar o elenco. O Felippe Cardos era a nossa principal esperança no ataque, é viril, tem talento e voluntarioso”.

A diretoria da Ponte dá respaldo ao treinador?

Doriva: “A diretoria sempre esteve junto e me senti bem respaldado. Respeito a decisão deles, mas pensei que fosse ter maior tempo de trabalho e que esperassem essa sequência de dois jogos como mandante na Série B para tomarem uma decisão mais efetiva”.

Você teve interferência nas contratações feitas depois do Paulista?

Doriva: “O mercado é muito difícil. A questão financeira atrapalhou bastante. Há um específico patamar de contratação. Não trouxemos jogadores de alto nível por conta do orçamento, está curto. Dessa forma, a montagem do plantel foi limitada. Não poderíamos fazer loucura e optamos por aquilo que estava dentro das finanças. Ou seja, se o clube poderia pagar ou não. Sempre conversamos sobre reforços, mas sempre que víamos um jogador de qualidade, pensávamos se tinha condições de pagar. Procurei jogadores para agregar, sim, mas não conseguimos trazer”.

Durante seu comando, em quais pontos a Ponte Preta melhorou?

Doriva: “A gente conseguiu jogar e propor os jogos, principalmente dentro de casa, exceto contra o Atlético-GO, quando não fomos superiores. Diante do Flamengo, no Maracanã, fomos equilibrados, tínhamos volume de jogo ofensivo, mas sem aproveitamento efetivo. Foi o único jogo que não fizemos placar. Quando enfrentamos Paysandu, Náutico, Londrina, Flamengo, Vila Nova e Criciúma, por exemplo, tivemos sucesso dentro da manutenção da posse de bola e do controle da partida, mas não conseguimos marcar”.

Por que o time não conseguir repetir as boas atuações do dérbi?

Doriva: “O dérbi foi o principal jogo durante a minha passagem: teve motivação e toda história que envolve um clássico campineiro. A vitória trouxe algo extra, mas não conseguimos reproduzir jogos daquele nível, quando criamos inúmeras situações, ganhamos o jogo por um placar bom. Foram três gols, perdemos outros tantos. Se tivéssemos jogado as demais partidas naquela intensidade, não estaríamos nessa situação”.

Por qual razão a Ponte Preta perdeu a disputa pelo Marcinho, atualmente no Fortaleza?

Doriva: “Acredito que tenha sido ‘jogo de empresário’. Ele fez uma Série B brilhante pelo Brasil de Pelotas. Inclusive, isso fez com que o Internacional pedisse seu retorno em janeiro. Tem grande potencial, mas infelizmente não conseguimos trazer”.

Como era o planejamento da comissão técnica e da diretoria com a possível volta de Luís Fabiano?

Doriva: “A principio, o objetivo é fazer a recuperação física do Luís Fabiano junto ao Departamento Médico. Um atleta desse nível, naturalmente, sempre cria expectativa na torcida. A diretoria nunca tinha falado comigo sobre isso, não sei qual foi o teor da conversa com o jogador. Sabia que estava se recuperando. O desejo de jogar o dérbi em agosto é uma situação real e pode vir a acontecer, se ele se recuperar bem”.

Uma mensagem ao torcedor pontepretano

Doriva: “Só tenho a agradecer, pude reconstruir minha imagem aqui depois de três anos. Ela tinha ficado desgastada por causa da passagem de 2015, mas saio com consciência tranquila de que tentei dar o meu melhor. Tenho gratidão e vou torcer para o time ir longe. É um grupo com muito potencial e, agora, vou dar sequência na minha carreira”.

(texto e reportagem: Lucas Rossafa)