Muitos querem Arena para a Ponte Preta. O West Ham ensina que toda cautela é necessária. Leia e entenda

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De autoria dos jornalistas ingleses Joshua Robinson e Jonathan, o livro “A Liga”, publicada no Brasil pela editora Versal e com tradução do jornalista Carlos Eduardo Mansur é uma preciosidade. Deveria ser objeto de estudo por qualquer profissional de comunicação, acadêmico ou personalidade do futebol.

Traz uma foto nua e crua do processo de transformação do futebol inglês em uma máquina de ganhar dinheiro ao mesmo que promove um distanciamento entre as entidades e os torcedores comuns. Não, não falo de torcidas organizadas e sim daqueles que saiam do trabalho no sábado à tarde para os estádios espalhados por toda a Inglaterra.

Guardadas as devidas, os capítulos existentes no livro são uma aula de como o desequilíbrio entre o verdadeiro sentido do futebol e ambição desmedida por dinheiro pode destruir anos e anos de tradição e solidez. A Premier League é sucesso? Inegável. Mas trouxe consequências e muitas deles não são agradáveis.

E penso que o livro traz um trecho que deveria se lido por todo torcedor pontepretano e dirigente da agremiação. Encontra-se nas páginas 325 e 326. Ao explicar como o futebol inglês distanciou-se da classe trabalhadora, os autores tomam como exemplo o West Ham, sediado em Londres.

Para alcançar o topo da tabela e tempos de glórias, os proprietários toparam assumir por 99 anos a administração do estádio Olimpico de Londres, construído para a Olimpíada de 2012. Detalhe: sem consultar nenhum órgão consultivo do clube ou seus torcedores. Decisão unilateral. Saíram de Upton Park e foram para um equipamento distante cinco quilômetros de sua sede.

Os jornalistas afirmam na obra que os torcedores na hora viram como um despejo forçado. Segundo o livro, o luxo e a grandiosidade do novo estádio não atraia o grosso dos torcedores, que queriam conviver antes dos jogos nos bares e estabelecimentos encontrados no antigo estádio. Mais: os torcedores ficavam distantes dos jogadores quando a bola rolava, o que gerava mais descontentamento.

Consequência: surtos de violência contra torcedores adversários e até contra si mesmos. O ápice ocorreu em março de 2018, quando em uma derrota para o Burnley, quatro invasões simultâneas e a revolta chegou a tal que os proprietários, David Gold e David Sullivan, tiveram que sair as pressas para não serem contabilizadas como vitimas.

Evidente que a cultura do futebol inglês é diferente daquela que vivemos no Brasil e o poderio econômico da Premier League não se compara com a Série A ou B do Brasileirão.

Existem valores universais. Tomar medidas que vão contra o desejo dos torcedores, seja aqui ou em qualquer lugar do mundo traz consequências. Em alguns assuntos, ouvir e pesquisar a vontade do Conselho Deliberativo ou da Assembléia de Sócios é insuficiente. A comunidade tem que ser chamada a opinar. É ela que deve definir os destinos de algo que lhe pertence.

O West Ham quis satisfazer a vontade de apenas duas pessoas e paga o preço até hoje. Você pode argumentar que valeu a pena porque na atualidade o time é o oitavo colocado na Premier League. Eu te devolvo a argumentação com outra pergunta: do que adianta morar sozinho em um palácio sem a companhia dos seus? Do que adianta ostentar riqueza e virar as costas para quem te levou por toda a existência? O dinheiro, o poder desmedido vale a pena ser trocado pelo sentido comunitário de um clube? O West Ham e o livro dos jornalistas ingleses mostra que não. Que os torcedores pontepretanos tenham isso em mente. (Elias Aredes Junior)