Como a ignorância tentou destruir o legado e os feitos de Pelé no Brasil

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Desde que a gente entra na idade escolar, algumas informações são transmitidas e que são fixadas para sempre em nossa memória.

Pergunte a qualquer brasileiro comum e todos vão saber que Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil. Ou que Dom Pedro I foi o responsável pela Proclamação da Independência. Também vão saber que Getúlio Vargas matou-se com um tiro no Palácio do Catete ou que Jânio Quadros renunciou após alguns meses de governo.

Eis que vem a pergunta: o que impede que as crianças descubram desde os primeiros anos de vida escolar que Edson Arantes do Nascimento foi o maior jogador de futebol de todos os tempos?

Para quem acha que ensino está atrelado a informação, Pelé fornece números em abundância para justificar o seu lugar no panteão dos dados primários sobre o Brasil: tricampeão do mundo pela Seleção Brasileira, bicampeão mundial pelo Santos, autor de 1282 gols, responsável por levar o Santos a uma potência do futebol e de desbravar os Estados Unidos.

Poderia dizer ainda que o eterno Camisa 10 do Santos foi a inspiração para criação da posição de quarto zagueiro e foi o pioneiro na utilização da imagem para ganhar proventos por intermédio da propaganda. Ouso dizer que Pelé poderia tranquilamente ser tema de uma prova de história no Ensino Médio ou até ser usado como exemplo em aulas de física.

Por que isso não acontece? O que motiva que Pelé seja apagado? Você pode alegar que são seus problemas familiares. Nada disso. Antes do aparecimento desses assuntos na mídia, Pelé não tinha seus feitos alardeados e propagandeados corretamente.

Por que? O que motiva? Responderia tudo em uma palavra: ignorância. Existem duas definições para esta palavra. A primeira diz que é um “estado de quem não está a par da existência ou ocorrência de algo”. Não serve para Pelé. Afinal de contas, seu nome é conhecido no Planeta. Não seria diferente no Brasil.

Agora, o segundo significado da palavra ignorância encaixa-se de maneira perfeita ao cenário vivido por Pelé: “estado de quem não tem conhecimento, cultura, por falta de estudo, experiência ou prática”. Bingo.

O brasileiro não lê. Tem dificuldade de estudar e buscar conhecimento. O brasileiro médio lê quatro livros por ano. Só como termo de comparação, no Canadá, a média está em 12 livros por ano. O brasileiro médio não considera conhecimento como instrumento de cidadania e sim uma estrada para buscar status na sociedade. Basta ver quantas universidades são fechadas todos os anos porque só fornecem o “canudo” aos alunos. E muitos que sentam no banco só querem isso: o diploma. Conhecimento? Desprezo. Ou seja, muitos só querem a capa do livro e desprezam o recheio.

Mais: quem detém informação, conhecimento muitas vezes é considerado afetado ou pedante. No Brasil, tudo ficou invertido. Ser legal, bacana é jamais receber informação e deixar de receber elementos que possibilitem uma melhoria intelectual e indiretamente da própria vida.

Neste cenário tenebroso, é natural que Pelé seja apagado. É coerente considerá-lo um jogador comum e fazer uma comparação com qualquer atleta do nosso tempo. Porque simplesmente você não tem dimensão do que representou Pelé.

Sua ignorância é uma opção. Porque estudar, pesquisar e conhecer fatos ou pessoas dá trabalho. E infelizmente, nós, brasileiros, gostamos muito dos títulos e benesses que a educação dá, mas poucos querem pagar o preço para que tal valor seja justificado.

O apagamento do legado de Pelé no gramado é vitima da ignorância que deixa o Brasil na vala da excelência e que justifica o abismo presente na sociedade quando o tema é educação. Que o legado de Pelé seja descoberto. E que a ignorância sobre sua trajetória tome cartão vermelho.

(Artigo de autoria de Elias Aredes Junior- com foto de Marcelo Casall-Agência Brasil)