Ponte Preta: ah como é legal participar de uma caravana!

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Desde a infância, meu pai era cuidadoso no relacionamento familiar. Incutia a necessidade de convivermos com tios e primos. Vários deles vieram para Campinas e adotaram a Ponte Preta como clube do coração. Participaram de caravanas, por vezes, realizado em ônibus em péssimas condições. Mas todos juntos. Unidos. Focados no bem maior, a Macaca. Hoje, ouço com deleite as histórias vividas em Bragança Paulista, Jundiaí, Limeira e em outras cidades do interior. Epopeias em que o torcedor estava pronto para o que der e viver.

Acompanho os preparativos da torcida para a decisão de segunda-feira contra o Santos. Será no estádio do Pacaembu, palco da final da Sul-Americana de 2013. Impossível pedir frieza ao torcedor com o reencontro. Um ponto, no entanto me incomoda. Muito. É a perda de relevância das caravanas e da mobilização coletiva.

Ninguém precisa me avisar. Eu sei que as torcidas organizadas organizarão ônibus e mais ônibus para se dirigirem a São Paulo. Certamente vão ocupar uma parte das 1.800 entradas destinadas pela direção do Santos. Poderia ser maior. Infinitamente mais relevante. Por que? O que aconteceu? Duas explicações devem ser enumeradas.

A primeira diz respeito à criminalização das torcidas organizadas. De tanto que uma parte da mídia misturou alhos com bugalhos e determinou que tais organizações só têm marginais e desocupados, que outros nichos da sociedade se afastaram e tiraram boa parte da graça e das histórias geradas por tais caravanas. Que tinham a condução das torcidas organizadas. Reflexo do povo sofrido e batalhador, retrato da Macaca. Que permitia a mistura do pedreiro com engenheiro, do jardineiro com o médico, do biólogo com o pedreiro. Tudo junto e misturado. E hoje? O preconceito indireto ficou tão enraizado que o individualismo prevaleceu, um fenômeno que também explica o atual estado de coisas.

Você presencia gente disposta a ir ao Pacaembu de carro. Ou de van. No máximo com 10 ou 12 acompanhantes. Vip. Uma classe acima. Não era assim antigamente. Pena.

É legal? Sim, ótimo. Só que indiretamente trinca uma taça de cristal que representa uma característica única, especial dos torcedores da Macaca: o congraçamento, o desafio de encontrar-se junto e rasgar a estrada com o maior número de “irmãos”.

Não duvido: o ambiente no Pacaembu estará único. A torcida da Ponte Preta estará lá, vibrante, forte e destemida. Pronta para desafiar o impossível. Só que sou saudosista. Admito. Com as caravanas, os jogos tinham história com começo, meio e fim. Você que irá de carro ou de van com ar condicionado saiba: no fundo, sempre faltará alguma coisa.

(análise feita por Elias Aredes Junior)

1 Comentário

  1. Verdade, Elias. Mas TV ao vivo em todos os jogos da Ponte também é uma das maiores causas desse desinteresse por caravanas. Sem falar no risco de perder grande parte do primeiro tempo, por caua da Polícia Militar revistando os ônibus mais do que precisa.