Quando a Ponte Preta entenderá que os bajuladores querem levá-la para o buraco?

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Nas minhas andanças pelo centro da cidade, nas redes sociais e até na família sou  abordado em relação ao tom críticos dos meus artigos sobre a diretoria da Ponte Preta. Com educação e sem qualquer resquício de grosseria e ironia, muitos defendem a eficiência de Vanderlei Pereira para sanear as finanças.

Que suas dificuldades para contratar são produzidas pela conjuntura irascível da economia brasileira e da disparidade de renda gerada pelo futebol brasileiro. Que não se pode esquecer da valorização da marca Ponte Preta, do valor dos patrocínios e da questão do clube encontrar-se em pé graças a Sérgio Carnielli. Esse então, sequer pode ser criticado. Deve ser tratado quase como um santo.

Concordo com boa parte dos argumentos. Não renego a eficiência de Vanderlei Pereira na parte administrativa, apesar dos erros grotescos na gestão do futebol. Vide a efetivação de Felipe Moreira, o desequilíbrio na montagem do elenco e o fracasso em algumas operações, como no caso da venda de Luís Fabiano.

Boa parte da resistência existe por uma falha do próprio mundo do futebol brasileiro e de décadas e décadas de cobertura cotidiana. Trocando em miúdos: o torcedor da Ponte Preta ou de nenhum clube brasileiro está acostumado com jornalismo como ele deve ser.

Pegue a história da crônica esportiva a partir do início do século passado e perceba que o foco  esteve no tratamento do futebol enquanto entretenimento, nunca como manifestação cultural, parte da identidade nacional e instrumento de poder. Portanto, deveria merecer uma cobertura crítica e independente.

Neste tipo de abordagem, o jornalista esportivo não tem dever algum de enfatizar qualidades ou abraçar o jornalismo chapa branca. Assessoria de imprensa, sites oficiais e toda a sorte de materiais produzidos pelo próprio clube encontram-se à disposição para tais tarefas.

Um pedido implícito colocado sobre qualquer órgão de imprensa é que acompanhe de modo apático e elogioso qualquer governo de plantão. Então, por que os dirigentes de futebol deveriam ser diferentes? Nos últimos 30 anos, tivemos duas matérias de denúncia no jornalismo esportivo e que alcançaram repercussão estrondosa: o escândalo da Máfia da Loteria Esportiva, denunciado pela Revista Placar, em 1981 e a denúncia de compra de votos e que envolveu o juiz Edilson Pereira de Carvalho, publicado pela Revista Veja em 2005.

Nos dois casos, não foram poucos os torcedores que ao invés de parabenizar Sérgio Martins e André Rizek, autores das reportagens, preferiram o caminho de demonizar os seus trabalhos. A acusação é de que estariam estragando a “beleza do futebol”. Por que tamanho disparate? Por que o torcedor foi condicionado por anos e anos a enxergar apenas o lado lúdico do futebol e ignorar suas falhas e pecados. Ou defender que aquilo não afetará o produto final. Política no esporte, por esta visão de mundo, é um assunto chato, hermético e sem interesse. Ficamos a meio passo para o futebol transformar-se em caminho para alienação e manipulação sem limites. Pode ser ótimo para quem deseja permanecer no poder, mas péssimo em longo prazo para quem busca gestões sadias e que primem pela transparência e diálogo constante com a sociedade.

Torcedores e dirigentes da Ponte Preta, incomodados com as criticas deveriam compreender que o debate da opinião pública é peça fundamental. Ninguém deveria hesitar para entender que o contraditório é a peça que move os ocupantes do poder. É por intermédio do apontamento das falhas  que percebemos se a gestão tem bases sólidas ou se tudo é um grande castelo de areia.

Vou além: sem a criticidade de uma parte da imprensa, Ricardo Teixeira não demoraria mais para sair da CBF?

Se levarmos tudo com consciência e tranquilidade, é justo dizer que Sérgio Carnielli salvou a Ponte Preta da insolvência. Mas também é estranho observar que ex-presidentes e dirigentes históricos estejam contrários aos seus procedimentos.

Não dá para ficar indiferente ao sumiço do torcedor pontepretano dos estádios e uma média de público que lhe deixa na rabeira do ranking do Brasileirão.Como isentar a diretoria pelo desaparecimento do torcedor?

É inevitável abrir espaço aqueles que clamam por uma rediscussão do aluguel da Unidade Paineiras. É obrigatório cobrar eficiência, ambição e busca de títulos diante do clamor da torcida.Para encerrar a reflexão, uma constatação: Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Santos contam com bons resultados nos últimos anos não só por causa do poderio financeiro mas por serem submetidos a cobranças por uma parte da imprensa paulistana. Que fiscaliza e aponta os erros, apesar dos resultados no gramado. Grêmio e Internacional já tiveram seus fracassos e dissabores e conseguiram se reerguer graças a presença de cronistas esportivos vigilantes, sem medo de exigir prestação de contas.

Em contrapartida, o Rio de Janeiro tem uma imprensa festiva, acrítica e quase sem espirito crítico. Coincidência ou não, todos os clubes convivem com dívidas quase impagáveis, exigência de investimentos urgentes e excetuando-se o Flamengo, todos já conviveram com a segunda divisão.

Neste ano, não há como ignorar as dificuldades do próximo brasileirão gerado pela desigualdade de renda e algumas medidas equivocadas. Ou você considera o armador Xuxa mais adequado que Fernando Gabriel? Pois é.

Este Só Dérbi e seus integrantes preferem cobrar no presente do que chorar e lamentar no futuro. Esta é a missão do jornalismo puro. Fora disso, é flertar com um peso na consciência de uma tonelada.

(análise feita por Elias Aredes Junior)

3 Comentários

  1. Concordo descordando. Na esmagadora maioria das vezes que li seus apontamentos de falhas da diretoria eu discordei. Não vou entrar no mérito de cada uma aqui pois eu iria me alongar por demais.
    Sinceramente, eu gostaria de ver uma acusação contra a diretoria com base solida.
    Dizer que a diretoria foi incompetente por não ter conseguido trazer o Luiz Fabiano é sacanagem. Pois trata-se de uma negociação bilateral. Ou seja, se os dirigentes da Ponte vieram publicamente dizer que o L.Fabiano assegurou que daria preferencia para a Ponte e depois não cumpriu sua palavra a culpa é deles?
    Enfim, ja ouvi dizer – não sei se é verdade – que o Carnielli usa um clube de faixada de Hortolândia quando tem parte dos direitos de atletas e depois os “empresta” para a Ponte Preta. Pelo que me disseram isso ocorreu com o lateral, Cicinho, Bob, Renatinho, Rodney… Ou seja, quando o atleta é bom e tem potencial de lucro ele compra o jogador através desse clube de Hortolândia e empresta para Ponte Preta. Dai o cara arrebenta, é vendido e a Ponte Preta mesmo não vê o lucro. Se isso for verdade, ta errado! É sacanagem! Como o clube vai prosperar se tiver um atravessador desse enfiado dentro do clube? Isso sim merece ser investigado e trazido a tona.
    Agora, dizer que o espantalho do Vanderlei errou por efetivar o Felipe Moreira é brincadeira! Ele lá tem capacidade de sozinho tomar uma decisão dessa? Francamente, claro que não!
    O Vanderlei é o cara das finanças, do punho firme. A era do ditador centralizador que mandava em tudo e nada era decidido sem sua assinatura ficou pra trás. Foi a era Carnielli antes de ter seu mandato casado. Depois, ele passou a delegar poder e a interferir menos. Tanto é que criou o Della Volpe. Se o Carnielli não tivesse dado espaço para ele crescer e se desenvolver como dirigente ele não seria quem ele é hoje e não teria a bagagem que tem hoje.
    Quero ver a imprensa lavando toda a roupa suja da Ponte Preta sim! Mas sem forçar a barra com teorias conspiratórias mais cabeludas da que o “Homem não foi pra Lua”.

  2. Racional, perfeito! Aredes, acho válida sua vigilância e até imprescindível, mas as teorias que aventa são pra lá de conspiratórias.
    Infelizmente, a Ponte não está conseguindo ficar atrativa como no início dos anos 2000, quando jogadores renomados vinham pra cá, com frequência. Tenho notícias que muitos jogadores interessantes têm se recusado a vir jogar na Ponte, apesar de recberem excelentes propostas. Desde o goleiro reserva do Corinthians ao último que foi o Alecsandro, passando pelo lateral esquerdo do Atlético Paranaense.
    Acredito que a diretoria possa fazer melhor tb, mas a luta que travam é inglória, por conta da diferença abissal de orçamento.
    Minha única crítica é que acredito que é hora da diretoria arriscar um campeonato com um elenco mais enxuto e mais jogadores tarimbados e qualificados. Por exemplo, em vez contratar mais 10 jogadores pro brasileirão, contratem um centro-avante, um lateral esquerdo e um zagueiro, todos acima da média e que venham pra ser titulares e dispensem pelo menos os 3 piores volantes, mantendo a mesma folha salarial.
    Com isso, acredito que poderemos sonhar com a permanência e derepente, uma excelente campanha na sulamericana.
    Abs