Quando o jornalismo esportivo brasileiro descobrirá (para valer!) o dérbi campineiro?

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A mídia nacional trabalha mal a cobertura do jogo entre Guarani x Ponte Preta, cujo próximo encontro está marcado para as 19h15 do dia 05 de janeiro, no estádio Brinco de Ouro.

Fora das principais capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador), é o jogo de maior rivalidade no país. Sim, a rivalidade de bugrinos e pontepretanos é superior a do Atle-tiba ou de Goás x Vila Nova ou de Avaí x Figueirense. O clássico campineiro tem ótimas histórias para contar.

Não falo dos jogadores. Esses todos sabem. A genialidade de Jorge Mendonça, o poder de decisão de Dicá, a mística em torno de Careca, Washington, Gigena, Luisão, Neto…Isso é roteiro decorado.

O que eu me refiro é ao aspecto humano, o relato de entrega ou paixão de torcedores, bairros e locais em Campinas em relação ao confronto. Chega a ser insano. De passagem lembro de “Tia Tânia”, que largou tudo por anos e anos para acompanhar o Guarani onde quer que fosse. Ou as irmãs Dalva e Luiza, responsável por introduzir as crianças ao mundo mágico do futebol e com uma história interligada a Macaca.

Impossível que tais histórias não comovam ou cativem quem está em qualquer recanto do Brasil. Emissoras, portais, apresentadores, comentaristas, narradores ficam apenas nas quatro linhas e jogam na lata do lixo uma pedra preciosa em termos jornalísticos.

Por isso acontece? Simples: as emissoras valorizam os times e não os campeonatos e suas histórias.

Na busca do trajeto mais cômodo para cativar a audiência, fala-se de meia dúzia de clubes e ponto final. Argumento pronto: são as maiores torcidas. Qual a área da vida que devemos prescindir da qualidade ? O que justifica o jornalismo esportivo ignorar os sentimentos e a vivência de comunidades que ficam mobilizados em torno de um embate centenário? Talvez o único momento que tal tema ficou em evidência foi durante a gestão de José Trajano na ESPN Brasil. Após sua saída, nunca mais.

Uma boa história, algo cativante está na Arena Condá, no Moisés Lucarelli, Brinco de Ouro, no estádio Independência e não no Morumbi ou no Maracanã. Bons relatos podemos encontrar em qualquer divisão.

Sim, Flamengo e Corinthians são as maiores torcidas.Produzem audiência. Mas o jornalismo ou a vida é feita de boas histórias, de relatos humanos emocionantes. E isso não está apenas nas 12 principais torcidas do Brasil. Já imaginou quanta história existe em um Remo X Paysandu? Ou em Comercial x Botafogo? Ou em CSA x CRB? O impede que isso seja divulgado maciçamente em rede nacional?

Infelizmente, o futebol brasileiro reflete a visão de alguns membros da elite brasileira. Assim como alguns torcedores de equipe gigantes eles pensam: só nós existimos. Só nossas histórias é que valem a pena. Não sabem o que perdem…

(Elias Aredes Junior)