Leio na edição de hoje do jornal “Correio Popular” sobre o risco do Guarani perder o terreno localizado na Rodovia dos Bandeirantes devido a realização de um leilão pela Justiça Federal. Os detalhes podem ser encontrados na boa reportagem assinada pelo repórter Carlos Rodrigues (leia aqui). Após ler esta matéria e suas nuances, qualquer torcedor tem uma pergunta cravada na mente: o que vai sobrar do Guarani?
O Estádio Brinco de Ouro, localizado em área nobre da cidade já foi objeto de sentença judicial para pagamento de dívidas trabalhistas. Existe contrapartida? Sim. O empresário Roberto Graziano deverá construir uma nova arena, um Centro de Treinamento e toda uma nova estrutura para o clube.
Só que o torcedor, por maior que seja sua boa vontade, fica a sensação de que está trocando uma casa de cinco dormitórios com suite por uma nova residência, é verdade, mas 60 metros quadrados e distante do centro da cidade. No seu coração, ele tinha a preferência de reformar o antigo imóvel.
O rol de noticias desconfortáveis é completado com alterações repentinas de política no futebol. Na última edição da Série A-2 do Campeonato Paulista, o elenco bugrino teve oito jogadores oriundos das categorias de base, todos integrantes do time titular comandado por Pintado.
De repente, os jovens são emprestados, dispensados ou alvo de acordos amigavéis (João Vittor é um exemplo) e o time feito por Marcelo Chamusca e Rodrigo Pastana é um mosaico de jogadores experimentados e tarimbados. É adequado para a Série C? Sim, mas a impressão é que um time passageiro, feito para uma grande aposta: ou obtém o acesso e planeja-se uma nova vida em 2017 ou tudo estará perdido.
O Guarani faz boa campanha, é líder do seu grupo e nutre possibilidades reais de disputar as quartas de final. Só que sua performance não é fruto de um trabalho de médio e longo prazo, como fizeram Londrina e Brasil de Pelotas, hoje integrantes da Série B. Como sempre, o Guarani é adepto do trabalho sazonal, esporádico e que pode gerar frutos ou frustrações. Deu certo em 2008, 2009 e 2011, mas a expectativa era de que tais metodologias ficassem no passado.
Quando a notícia do leilão aparece no noticiário, sua utilidade é levar o torcedor, jogadores , dirigentes e imprensa local á realidade. Os 18 pontos acumulados no Grupo B não podem ser combustível de um discurso manipulativo e acreditar que tudo está resolvido. Nada disso.
Queiramos ou não, o Guarani encontra-se no dilema vivido pelo personagem vivido por Tarcísio Meira na novela “Irmãos Coragem”, veiculado pela Rede Globo em 1970: alguém que liderava um grupo que lutou a vida inteira pela posse de um diamante (o acesso) e que na cena final viu que a luta de poder, as disputas e a ganância e a ambição desmedida geraram ao seu redor uma cidade destruída e reduzida a cinzas. Na novela, João Coragem quebrou todo o diamante e falou que era preciso começar do zero. O Guarani precisa buscar um final diferente.
(análise feita por Elias Aredes Junior)