Tiãozinho e sua decepcionante gestão na Ponte Preta. Ou quando a derrota de um transforma-se em um peso para milhares

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Não há como usar meias palavras: a gestão de Sebastião Arcanjo na Ponte Preta é decepcionante. De 0 a 10? Nota 3,5, o mesmo patamar do antecessor José Armando Abdalla Junior.

Atraso de salários, troca constante de treinadores, desaparecimento em instantes importantes da vida pontepretana, o fantasma do atrelamento ao presidente de honra, Sérgio Carnielli e ausência de liderança para construir processos de modernidade na Alvinegra. Consternação. Não há como fugir do quadro sombrio.

Apesar de considerar as gestões lineares em termos de (baixa) qualidade, o período de Abdalla e de Tiãozinho tem uma diferença: a repercussão.

O dentista Abdalla ao fracassar representa ele mesmo. É mais um que naufraga, assim como foram  outras personalidades ao longo da história pontepretana. Com Tiãozinho, o quadro muda. Quem diz isso não sou eu. É  a sociedade.

Dos 40 clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro, Tiãozinho é o único mandatário de descendência negra. Cenário que é um reflexo do cotidiano nacional.

Basta dizer: o IBGE constata que apenas 29% dos cargos de liderança no mundo corporativo são ocupados por negros. Nesta conta entram pequenas, médias e empresas de grande porte. Se o recorte for entre as 500 maiores empresas do Brasil, o percentual é ainda menor: 4,7% dos postos de comando estão com os negros. Pouco, muito pouco.

Detalhe: os negros representam 55,9% da população brasileira. Um percentual que reforça a sub representatividade da comunidade negra em postos de liderança.

Quem alcança o topo da pirâmide não trabalha somente por ele. Representa todo um contingente da população que sofreu anos e anos devido a escravidão e cuja divida não foi paga pela sociedade brasileira. E que agora precisa construir espaços na base da luta. E engolindo sapos. Muitos.

A cada derrota ou gestão ruim, em uma empresa ou um clube de futebol, estes negros do topo da pirâmide fornecem argumentos para aqueles que consideram que o negro não está preparado para liderar.

Frases soltas e desconexas ganham ainda mais combustível para serem ditas na mesa de bar ou nas conversas entre amigos. Sabe, aquelas com alto grau de preconceito? Pois é.

Quando Tiãozinho deixa a desejar na condução da gestão pontepretana não é somente ele que perde. São trucidados e alijados  negros e negras com formação superior e que poderiam chegar no topo nos principais clubes do Brasil.

Pessoas preparadas, capacitadas e que muitas vezes não ganham um lugar ao sol porque não ultrapassam esta barreira da discriminação racial, uma luta que não deveria ficar apenas neste dia 21 de março, dia internacional de luta contra a Discriminação Racial. É algo para ser batalhado dia após dia, semana após semana.

O preconceito racial é real. Não dá para disfarçar. Os negros são encarregados de aproveitar cada espaço ou oportunidade para não somente triunfar e sim para deixar a porta aberta para que outros tenham a sonhada chance.

Na Ponte Preta, Tiãozinho deixa a chance escapar por entre os dedos. Todos os negros (as) perdem. Infelizmente.

(Elias Aredes Junior)