Samuel Wainer foi um dos principais homens da imprensa brasileira no Século 20. Criador da revista Diretrizes e repórter de política do conglomerado dos Diários Associados, o judeu nascido na Bessarábia promoveu uma revolução na imprensa brasileira ao fundar a cadeia de jornais chamada “Ultima Hora”. Sua sede de poder, entretanto, foi o seu abismo.
Para erguer o seu império tomou atitudes impensadas. Contraiu empréstimos junto ao Banco do Brasil e a empresários ligados a Getúlio Vargas. Teve uma relação de amizade inconveniente com o “pai dos pobres”. Tudo pelo poder. Deixava que o próprio Vargas pautasse o jornal. No final das contas, pagou a fatura no final da vida com decadência e até uma certa irrelevância, até ser reabilitado no final da década de 1970 pelo jornal “Folha de S. Paulo”. Morreu em 1980.
É uma biografia que deveria servir de lição a muitos jornalistas. Em todos os locais. Também em Campinas. Em setores da área esportiva? Com certeza.
Quando assumimos o perigoso papel de lobista em nome de determinados alvos não só estabelecemos uma relação perigosa com o alvo da cobertura (no caso a direção dos clubes) como ficamos sócios do (aparente!) sucesso e do fracasso. Samuel Wainer entrou no furacão das denuncias que engoliu o governo Vargas.
Não só porque defendia o governo, mas porque se considerava o representante do governo. Erro cometido até hoje por muitos jornalistas esportivos. Em Campinas e no Brasil. Nós cobrimos o poder exercido nos clubes. Não somos o poder.
Uma pena que nós, jornalistas esportivos em Campinas, por vezes nos recusamos a aprender a lição. Sim, é fato que setores da imprensa campineira encamparam a defesa de nomes para o comando da Ponte Preta na Série B. Sérgio Guedes, Thiago Carpini…o cardápio é vasto. Tem para tudo quanto é gosto. Seja em programas ou nas redes sociais. Dizem que isso é o melhor para a Ponte Preta. Deveriam entender que existe alguém designado para determinar rumos: Sebastião Arcanjo, o presidente da Ponte Preta. Devemos analisar apenas se sua atitude é boa ou ruim. E esclarecer sobre rumos e diretrizes futuras. Só.
Ok, digamos que o presidente da Ponte Preta, Sebastião Arcanjo, aceite uma das sugestões defendidas por cronistas esportivos. Escolha treinador A ou opte pelo B.
Pergunto: e se for um fracasso? E se o time cair de ponta a cabeça? O jornalista irá a público dizer que errou? Vai afirmar em alto e bom que estava equivocado?
E vou aprofundar o questionamento: vai adiantar de que o pedido de desculpas?
Você foi lá, defendeu o nome de determinado profissional, essa opinião pressionou a diretoria, o clima foi criado, o fracasso apareceu e no final das contas, você não sentiu qualquer consequência. Bem, você acha tal conceito. Como Wainer também considerava que podia falar, opinar, e não teria qualquer responsabilidade por medidas equivocadas do governo Vargas. Pois é. Lá se foram 67 anos após o suicídio do “Pai dos Pobres”, Wainer pagou o preço pela sua megalomania e muitos não aprenderam a lição.
A imprensa existe para fiscalizar e ser equidistante do poder. Não pode e não deve influenciar, mandar, pressionar ou constranger qualquer pessoa com poder na mão para satisfazer a sua vontade. Nem em programas de televisão, rádio, internet ou nas redes sociais.
É questão de responsabilidade. E zelo. Pelo ofício. Pela profissão. Pelo público. Insistir neste expediente é instalar um cupim na credibilidade da imprensa esportiva campineira junto ao público. Um dia a madeira fica oca. E todos vão perder. É preciso agir. Para depois não sentir o fel da vida. Que Samuel Wainer precisou degustar. A contra gosto.
(Elias Aredes Junior)