Como Jonas Donizete ajudou na elitização do futebol campineiro com o aumento da tarifa de ônibus

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O prefeito de Campinas, Jonas Donizete (PSB) decretou a partir de sábado um novo aumento da tarifa. O valor atual é de R$ 3,80 e haverá dois valores. Para quem pagar em dinheiro vivo o motorista receberá R$ 4,50. Quem tiver o bilhete único, o valor será de R$ 4,20. De acordo com o decreto, a cada nova integração R$ 0,30 será descontado do cartão do usuário.

Apesar de parecer distante, a medida tomada pelo prefeito reeleito é um tiro no coração daqueles que defendem a popularização do futebol. Um tema complexo e que merece atenção.

De acordo com números atualizados do IBGE, Campinas tem 1.173.370 habitantes. Se levarmos em conta o censo demográfico feito pelo próprio instituto na cidade, em 2010, 49,15% da população fazem parte da classe C e recebem de 4 a 10 salários mínimos (de R$ 3748 a R$ 9370), o que daria em torno de aproximadamente 576.711 habitantes. A classe A tem 13,12% de habitantes (em torno de 153.946) e a classe B 23,28% (com 273.160).

A classe D conta com aproximadamente 96.685 pessoas (8,24% do total)  e ganham de dois a quatro salários mínimos (de R$ 1874 a R$ 3748) enquanto que a base da pirâmide, ou seja, trabalhadores que ganham no máximo R$ 1874 são em torno de 71.692 habitantes. Junte as duas classes (168.377 no total) e imagine que Valinhos tem 122.163 e Vinhedo conta com 73.855 habitantes.

É uma exclusão sem precedentes na história da cidade. Gente que deverá abrir mão até de frequentar o Moisés Lucarelli ou Brinco de Ouro nem que seja uma vez por mês.

Por que? Apesar de o salário mínimo subir de R$ 880 para R$ 937, a corrosão no bolso do trabalhador é notória. É só dividir o valor da tarifa pelo salário mínimo para constatar a perda do poder aquisitivo. Confira:

-Com o salário mínimo a R$ 880 e a tarifa a R$ 3,80, o trabalhador campineiro poderia comprar 231 passagens;

– O salário mínimo a R$ 937 e com tarifa a R$ 3,80 existiria a possibilidade de adquirir 246 bilhetes;

Salário mínimo de R$ 937 e valor de R$ 4,20, o trabalhador compra 223 passagens;

Com valor de R$ 4,50 (R$ 4,20 mais uma integração), são 208 passagens adquiridas com o salário minimo

– Com R$ 4,20 e duas integrações (R$ 0,60), um trabalhador compraria 195 passagens com um salário mínimo.

Levando-se em consideração a necessidade de trabalhar, estudar ou de procurar emprego durante a semana, o saldo para pegar um ônibus para atividade de lazer fica mais restrito, seja na quarta-feira ou no domingo. Nesta temporada, a perspectiva é de que cada equipe faça, na pior das hipóteses,  entre 28 a 29 jogos em seus domínios. Dá para imaginar um torcedor com rendimento baixo presente em todos os jogos? Díficil.

No ano passado, a média de público do Estádio Moisés Lucarelli ficou em 5109 torcedores por jogo (ocupação de 28%) enquanto que o Brinco de Ouro recebeu em média 4090 torcedores e ocupação de 14%.

Com uma canetada, Jonas Donizete colaborou para deixar o quadro dos clubes campineiros ainda mais grave. Em Campinas futebol será para poucos. Infelizmente.

(análise, texto e reportagem: Elias Aredes Junior)