Ditadura Militar e as consequências danosas ao futebol campineiro. E que precisamos virar a página!

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Existem controvérsias quanto a largada do período de ouro do futebol campineiro. Alguns apontam o ano de 1970, quando a Ponte Preta foi vice-campeã paulista e teve sua primeira participação no Torneio Roberto Gomes Pedrosa e em 1971 no Campeonato Brasileiro.

Outros acreditam que foi em 1976, quando Guarani teve bom desempenho no Paulistão e inaugurou uma sequências de glórias do futebol campineiro, que inclui o vice regional em 1977 pela Macaca, a conquista da Taça de Ouro pelo Guarani em 1978, a medalha de prata da Alvinegra no Paulistão de 1979, o terceiro lugar da Ponte Preta no Brasileirão de 1981, além do vice-campeonato paulista, além da conquista da Taça de Prata pelo Guarani em 1981. Depois tivemos a medalha de bronze do Guarani em 1982, o vice-campeonato brasileiro de 1986, o vice-paulista de 1988 e o acesso da Ponte Preta na Divisão Intermediária em 1989.

Excetuando-se os três últimos resultados obtidos pela dupla campineira na década 1980, o restante tinha algo em comum: todos ocorreram durante o periodo da ditadura militar, que durou de 1964 a 1985.

A simbologia “Capital do Futebol” foi construída em cima de uma conjuntura contraditória. Na política local, de um lado, tínhamos a oposição ao regime militar, que nunca perdeu eleição local no periodo e com isso elegeu Ruy Novaes pelo PSB e os mandatários restantes pelo MDB, o partido oposicionista autorizado: Orestes Quércia, Lauro Péricles, Francisco Amaral e José Roberto Magalhães Teixeira. Ou seja, Campinas era um foco de resistência e local de reivindicação das liberdades individuais.

Só que enquanto os jogadores faziam a festa da galera, a Arena, o partido oficial do governo tentou por várias vezes utilizar Ponte Preta como Guarani como instrumentos de manipulação política. Na página 327 do quarto volume da coleção “História da Associação Atlética Ponte Preta”, de autoria de Sérgio Rossi, existe a descrição de um periodo de transição entre o então presidente, o coronel Rodolpho Pettená e o sucessor Lauro Moraes. Segue aqui, a descrição feita por Sérgio Rossi na obra: “(…) Fatores políticos de âmbito nacional forçaram a saída do Coronel Rodolpho Pettená da presidência da AA Ponte Preta para a entrada do presidente regional da Arena, Lauro Moraes Filho, já com passagens pelas presidências dos Conselhos Deliberativo e Fiscal do Clube. No entender da alta cúpula de Brasília, era preciso “quebrar” a hegemonia do MDB em seu reduto maior, ou seja, em Campinas. Entre outras ajudas politicas, sociais e econômicas nada melhor do que levar o clube mais popular e de maior torcida da cidade e do interior paulista a categoria de disputante do Campeonato Brasileiro em sua divisão principal.

(…) Através do ilustre general Gustavo Moraes Rego Reis, comandante da Guarnição Militar de Campinas, o fato se consumou sem prejuízo de outros integrantes do Nacional. Evidente que houve intenso trabalho de bastidores com a participação de dirigentes e de influentes pontepretanos (…).

O Guarani não escapou do assédio do poder. Presidente do Clube no periodo de 1970 a 1977, Leonel Martins de Oliveira disse em diversas oportunidades a Marcos Ortiz, comandante do Planeta Guarani que foi procurado por diversas vezes por políticos da Arena para sair candidato. É bom que seja registrado: ele nunca caiu no canto da sereia.

O raro leitor e leitora deve pensar: o que isso tem relação com os dias atuais? Total. A ausência de democracia e de liberdade de opinião na sociedade reverberava nos clubes. Tanto que em toda a década de 1970 o Guarani nunca teve uma oposição competitiva.

Quando a redemocratização ocorreu a partir de 1985, perceba que isso inaugurou um periodo de intensa turbulência política nos dois clubes. Em que o foco nunca foi a de viabilizar o crescimento do clube por intermédio do debate sadio e da troca de ideias, e sim a simples missão de exterminar o lado contrário.

A verdade é que a queda nos resultados veio com uma triste constatação: Ponte Preta e Guarani têm intensa dificuldade de lidarem e de subtraírem os pontos positivos de viver em um regime democrático e com liberdade. Não se iluda: a bola não entra por acaso. A crise atual não é causa e sim consequência de duas comunidades destroçadas pela sede de poder e ausência de convivência sáudavel entre os diferentes. Um dia muda. Esperamos.

(Elias Aredes Junior)