Análise: o Guarani não pode se resumir a Fumagalli. E por vários motivos

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Em 2016, aos 38 anos e jogando menos, Fumagalli foi um grande reforço para o Guarani na campanha de acesso na Série C do Campeonato Brasileiro. O camisa 10 foi muito bem e ajudou a equipe no momento mais decisivo na competição – com destaque para o memorável 6 a 0 contra o ABC, quando marcou quatro gols.

Em 2017, mais velho e jogando mais vezes devido à Série B, onde o acompanhei bem de perto, fazendo a cobertura diária no Brinco de Ouro, o rendimento já não foi o mesmo. A curiosidade é que ele se tornou coadjuvante num esquema de jogo adaptado para ele. O número de gols caiu pela metade e a pegada para jogar chegando detrás como assistente ofensivo já não era mais a mesma.

Fumagalli estava consciente de que era preciso refletir sobre sua continuidade no clube. Escolheu pela aposentadoria e foi convencido a continuar na Série A2 porque a qualidade da competição é baixa e o capitão não teria problemas em prolongar mais meses sua despedida. Mas a postura dele e a do time na partida em Barueri foi mais preocupante do que o resultado em si.

Umberto Louzer disse após a derrota para o Oeste, por 1 a 0, que deu liberdade para Fumagalli dentro de campo, mas não foi bem assim. Em diversos momentos, o treinador pediu para que ficasse mais próximo da área quando ele, impaciente, voltava para tentar armar as jogadas ofensivas para ninguém. Nenhuma referência no ataque bugrino. Em determinado momento no final do primeiro tempo, Fumagalli chegou a fazer a lateral-direita e deixou Lenon como ponteiro. Ele queria fazer dar certo.

Depois de muitos anos marcando gols e com facilidade para encontrar espaços na área adversária, Fumagalli aparece com o ritmo cada vez menor e sua substituição é certa em todas partidas. Nem mesmo a bola parada, que o premiou em tantos momentos, nem aparecido como arma contra os times adversários.

Respeito a trajetória de Fumagalli, quarto ou sétimo maior artilheiro do clube, mas a vontade de colaborar é maior do que está ao seu alcance físico, principalmente pelo ritmo do futebol atual.

O que tem a ganhar Fuma no Guarani ainda? Não me refiro a acessos ou títulos, mas em termos de uma história. Ele fez tudo, bateu recordes, ganhou dérbi, foi herói, conquistou até quem duvidava dele e virou símbolo da torcida na época mais difícil da história do clube.

Para que correr o risco? Muito a perder, pouco a ganhar. Não escrevo para apostar que não dará certo, mas sim para questionar se é válido o risco de começar a ouvir aquele papo de “ex-jogador em atividade”, “não sabe parar”, “fominha” e outras coisas.

Esse Guarani te incomoda. Está na sua cara, Fumagalli. E deve doer vê-lo sendo destruído por dentro e não por fora.

(análise de Júlio Nascimento/foto: GuaraniPress)