Guarani: de vanguarda para bote de salvação no futebol brasileiro

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A história do Guarani é uma roda gigante. Seu simbolismo muda de tempos em tempos. Especialmente para aqueles que sentam no banco de reservas. No final da década de 1970, a então diretoria queria alguém sedento por projeção e com vontade de vencer. Buscou Carlos Alberto Silva, destaque no futebol mineiro pela Caldense e depois eternizado pelo título de 1978 e por boa campanha na Copa Libertadores de América. A filosofia foi sustentada com seu sucessor Cláudio Garcia.

Em outras oportunidades, a decisão era abrir espaço aos “conhecidos da casa”. Gente com capacidade de detectar crises nos corredores do Brinco de Ouro. Zé Duarte inaugurou tal linhagem, seguido pelo próprio Carlos Alberto Silva e depois por gente do naipe de José Luiz Carbone e Vadão.

O Brinco de Ouro viveu época de ouro. Enlouquecido e fissurado por um título, Luiz Roberto Zini abria o cofre e fazia até o que era além do necessário. Foi assim quando contratou Evaristo de Macedo, recém-laureado campeão brasileiro pelo Bahia em fevereiro de 1989.

Nos últimos anos, a crise política bugrina fez com que tentativas fossem feitas de todos os jeitos e lados. Algumas deram certo, outras não. Nesta década, por exemplo, o Guarani teve aposta em emergentes como Vagner Mancini no Brasileirão de 2010; em veteranos como Vilson Tadei; em disciplinadores como Luciano Dias e Argel Fucks; e “conhecidos da casa” como Vadão, com duas passagens e com grupos políticos diferentes.

Nestes últimos dois anos, o Guarani é marcado por uma triste sina: um clube com função de bote salva vidas, pronto para salvar técnicos candidatos a se afogarem no mar revolto do mercado da bola e por motivos extra-campo.

O passo inicial foi com Marcelo Chamusca, estigmatizado por ter fracassado duas vezes com o Fortaleza, apesar da liderança na fase de grupos. Deu certo. O Guarani ultrapassou obstáculos e ficou com o vice-campeonato da terceirona.

Neste ano, após fracassos, vitórias e derrotas com Ney da Matta, Vadão e Mauricio Barbieri, o papel de salva vidas foi renovado com Marcelo Cabo, destroçado em credibilidade devido ao seu desaparecimento no início do ano no Atlético-GO e pelo desempenho pífio com o Figueirense. Frustração geral com seis jogos, nenhuma vitória e três pontos somados.

Lisca é a nova aposta. É bom treinador. Seu lado folclórico fica em segundo plano mas tem conceitos táticos sólidos. Pode dar certo. Mas seus bons resultados foram obtidos com motivação e com times bem armados, como no acesso no Juventude na Série D e a reação empreendida em 2015 pelo Ceará.

Só que é impossível disfarçar: a confusão e a saída conturbada do Paraná atrapalhou a trajetória de Lisca. Assim como Marcelo Cabo, Lisca vai encarar o Guarani não só como um clube, mas uma âncora de salvação para sair do estigma criado em torno de si.

Das opções disponíveis mercado e pelo quadro no clube, Lisca, em conjuntura normal seria uma ótima opção. Seu passado recente e do próprio Guarani transformam a missão de tirar o time da rota do rebaixamento em uma missão ainda espinhosa. Tomara que consiga.

(análise feita por Elias Aredes Junior)