Uma reflexão sobre a falta de apreço da atual diretoria da Ponte Preta pela democracia

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Democracia é associada ao voto. Entrar em uma cabine e exercer o direito de escolher seus representantes parece suficiente. Nada mais raso, superficial e pueril. A ditadura militar promoveu diversas eleições entre 1964 e 1985 e nenhum historiador sério e conceituado ousou estipular aquele tempo como democrático. Pelo contrário.

Viver em ambiente democracia pressupõe liberdade de expressão, acerto de contas, fornecimento de informações, transparência e foco em satisfazer a opinião pública. Se realizarmos uma análise bem profunda veremos que a atual diretoria da Ponte Preta e seus apoiadores merecem uma nota bem baixa. Próxima de zero? Sim.

Os fatos estão expostos à luz do dia. De largada digo: as reuniões do Conselho Deliberativo, outrora uma entidade com foco no debate e na troca de ideias para o futuro do clube virou quase que um cartório informal para as medidas do executivo. O roteiro descrito por vários interlocutores de diversos grupos políticos é idêntico: a proposta é encaminhada, o presidente do Conselho Deliberativo lê tudo em velocidade a jato, a votação é feita as pressas e não existe nenhum contraponto.

A oposição é limada do debate. Pior impossível. Quem está no poder tem a obrigação e o discernimento de oferecer espaço ao pensamento diverso. Existe uma obsessão dos situacionistas de preservar a figura de Sérgio Carnielli. Deveriam entender que quanto mais explicam e apresentam dados, não só ratificam o debate como também estabelecem um legado positivo ao presidente de honra, que seria do espírito democrático. Pelas informações que tenho, nada disso acontece. Preferem sufocar e massacrar ao invés de democratizar.

Democracia pressupõe prestação de contas. Falar ao seu público alvo. Campinas tem o prefeito Jonas Donizete. Eleito em primeiro turno. É alvo de críticas pesadas por parte da população. Consideram ruim o seu mandato. Tal cenário não impede o mandatário de regularmente aparecer para entrevistas coletivas e até utilizar a rádio Educativa para dar a sua visão dos fatos. Você pode até não gostar ou concordar, mas ele cumpre com sua missão. Fala. Explica.

Pergunta: quantas vezes Vanderlei Pereira tomou tal atitude no seu mandato? Quantas oportunidades ele encarou os microfones e uma entrevista coletiva para explicar a sua versão dos fatos? Aliás, fez pior: virou as costas para o torcedor e a imprensa local e caía nos braços dos jornalistas paulistas.

Tanto que a sua declaração de que uma revelação das categorias seria o “novo Neymar” não foi para nenhuma mídia local e sim na Fox Sports. Seria como o presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, não falar com ninguém da capital mas deitar falação com a Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Incoerente, no mínimo.

Tal ápice deste desprezo pela opinião pública teve o Só Dérbi como protagonista. Enviamos questionários para as duas chapas. Há duas semanas. A oposição respondeu. Já analisei e reafirmo: o conteúdo oposicionista é decepcionante. Só existe um mérito: deu satisfação ao eleitor e ao torcedor que clica nas matérias do Só Dérbi.

E a situação? Ao recusar e deixar o espaço de resposta em branco, os situacionistas reafirmam a impressão que não tem apreço pelo debate, jornalismo crítico e pior: não aceitam a presença de uma chapa oposicionista.

Para o grupo político atualmente no Majestoso tudo parece resumido ao voto do dia 27 de novembro. Uma concepção tosca, retrógrada, sem nexo e brochante. Afinal, e depois do voto? Como será a convivência com pessoas que detém o poder e são incapazes de ouvir, debater, trocar ideias e principalmente conversar com a razão de ser e de viver da Ponte Preta que é o torcedor?

Teremos mais quatro anos de silêncio, falta de prestação de contas e esclarecimentos ao torcedor? Veja no atual Brasileirão o quadro vivido. A Macaca corre sério risco de rebaixamento e nenhum dirigente estatutário dá satisfação. Preferem colocar Gustavo Bueno como boi de piranha. Seria idêntico se, quanto eu consumisse uma comida estragada em um restaurante , eu reclamasse e batesse boca com o garçom e não com o chefe de cozinha, gerente ou proprietário, os responsáveis pelo cardápio . Pense: não tem algo errado?

A Ponte Preta para crescer não necessita apenas de bola na rede. Ou campanhas históricas. Necessita de gente com espírito democrático e aberto ao contraditório. O perfil parece em falta. Ou como diria o genial Millôr Fernandes: “Quando eu mando em você é democracia. Quando você manda em mim é ditadura”.

(análise feita por Elias Aredes Junior)