2002, conquista do título e a necessidade de retorno de um Brasil que não volta mais

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O dia 30 de junho de 2022 está eternizado no coração do torcedor brasileiro. Brasil 2 x 0 Alemanha. O último título mundial da Seleção Brasileira. Dois gols de Ronaldo Nazário que entraram para a história. Assim como as defesas do goleiro Marcos, a genialidade da dupla formada por Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, a impagável descontração de Vampeta e a seriedade de Luiz Felipe Scolari. Uma taça que coroou uma trajetória improvável, única, inesquecível.

Todo mundo acima de 30 anos tem uma história para contar deste dia. O que sentiu, o local em que assistiu ao jogo, com quem se abraçou ou a celebração do título. Quero contar a história que eu vivi porque envolve aquilo que é mais precioso: gente.

Eu não dormi na noite anterior. Passei a madrugada ouvindo a Rádio Bandeirantes de São Paulo.

O sol raiou e eu tomei café. Fui de imediato ao local em que assistiria ao confronto. Era uma casa confortável em um bairro de Campinas. A residência era de propriedade de um promotor aposentado, senhor Dirceu e de sua esposa Leila. Era amigo de suas filhas, Beatriz e Carolina.

Como clássico torcedor “Pacheco” fui o primeiro a chegar. Não queria café, lanche, suco, nada. Eu queria que a bola rolasse. Apesar de ter comemorado o tetracampeonato em 1994, eu estava hipnotizado pelo trio formado por Ronaldo Nazário, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo. Parecia que o sucesso deles dependia da minha presença.

E eu estava lá. Sentado em uma sala de estar, em frente a uma televisão de altíssima qualidade e ao lado dos amigos: a Ana Ruth, o André, o Paulo, o Jean, a Cyntia, além da Beatriz e da Carolina, as anfitriãs. Histórias e trajetórias diferentes. E todos direcionados e focados em presenciar a final da Copa do Mundo.

Aqueles 90 minutos enclausurados em uma sala talvez tenha sido um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Como você, que deve guardar no coração o que passou naquele dia.

Naquele jogo, naquela sala, e com aquela gente, eu encontrava o verdadeiro sentido do futebol. Que não é só bola na rede, salário, fama e dinheiro. Futebol é, antes de tudo, encontro de almas.

Não há como impedir a emoção de desembarcar junto com a saudade. Afinal, eu assistia a uma final de Copa do Mundo com pessoas que eu amava (e amo). Genuinamente. Apesar dos nossos defeitos, divergências, confusões, desencontros. A gente se amava. Amizade pura. Verdadeira. Sem querer nada em troca. O futebol, quando quer, é o laço que interliga corações e mentes. Para sempre. E aquela final produziu tal sentimento em todos aqueles que viram a decisão em um cômodo aconchegante.

Quando eu recordo o que vivi e senti naquelas horas eu só consigo imaginar o quanto encheu a minha alma pensar que eu consumia o esporte que eu amo com gente que eu amava.

Oito anos antes, o futebol já tinha sequestrado meu coração para sempre. No dia 17 de julho de 1994, o Brasil foi campeão do mundo e a imagem fixada na minha mente é de minha mãe sentada no sofá e dizendo para mim que não sairia dali porque ela iria orar para ver o Brasil campeão do mundo e automaticamente para me ver feliz. Como esquecer? Não dá.

Hoje acordei com lembrança do jogo de Yokohama. E a voz embargou. O coração ficou quebrantado. Não somente pela recordação de um feito esportivo. A impressão é que aquilo que eu vivi parece que nunca mais será retomado.

As diferenças políticas, a ausência de convivência social, o distanciamento pelos afazeres da vida e a própria sociedade entregue ao ódio e a violência transformaram a convivência entre os diferentes em pecado mortal. O amor ágape, o combustível da amizade, parece ser improvável de ser exercido. Hoje, a Seleção Brasileira vence e o que aparece é alivio, nunca alegria e júbilo. Comemoramos solitários, na frente de uma tela de celular ou computador. Onde erramos?

Que a Seleção Brasileira retome o seu caminho de vitórias. E que o Brasil volta a ser um lugar de amor, jamais de ódio.

(Elias Aredes Junior foto de Thaís Magalhães-CBF)