Análise Especial: mais do que um presidente ruim, Tiãozinho é uma oportunidade histórica desperdiçada. Mas o estatuto e a democracia precisam prevalecer. Leia e entenda

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A democracia é, antes de qualquer conceito, um processo de aprendizagem.

É por intermédio do voto, da reciclagem de quadros e da capacidade de autocritica da sociedade que realizamos os aperfeiçoamentos necessários.

Rupturas traumáticas produzem alivio instantâneo, mas em médio e longo prazo trazem frutos amargos.

Veja o que aconteceu em 2001 na Argentina, com a renúncia de Fernando De La Rua e a a série de presidentes que saíram e entraram. Historiadores sérios fazem sua reavaliação se foi uma medida acertada as quedas do ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Roussef. Da maneira que foi. Como foi.

Por vezes é por intermédio de um governo ruim, de uma administração péssima que os processos são aperfeiçoados. Que melhores quadros são preparados.

Fiz tal introdução para falar o óbvio no dia de aniversário da Ponte Preta: o seu presidente faz uma gestão ruim. Um administrador decepcionante. Um gestor de futebol que por vezes não atende as expectativas. De zero a 10? Nota 3. Sim, é pior do que José Armando Abdalla Junior.

Um presidente que deveria corresponde ra expectativa por um motivo adicional: em uma sociedade racista e excludente como a brasileira – em que o jurista e filósofo Silvio Almeida retrata como poucos no livro “racismo estrutural”- o negro que ocupa altos postos não tem direito de errar. Não há direito a uma segunda chance. É cruel, duro, mas é a realidade. Ou acerta ou acerta. Sob pena de ser colocado no limbo da história.

Só que reivindicar  a  sua renúncia ou derrubar Tiãozinho do cargo equivale  uma  sentença de que um segmento não merecerá uma segunda chance, mesmo que seja em longo prazo. Mais: produzirá consequências imprevisíveis. Ou alguém duvida que as trapalhadas atuais não são frutos da saída de Abdalla, originariamento eleito para o posto? Não é de bom tom apostar no caos. Nunca.

Como trilhar o caminho correto? Primeiro com a torcida pontepretana exercendo o seu papel comunitário. De salvar o time e de ajudar sem querer nada em troca. E a história dá o exemplo: em 2003, ano do sufoco na divisão de elite, o médico Danilo Villagelin acompanhava a equipe sempre que era possível.

Não abandonava.

Ignorava os problemas administrativos em prol de algo maior: a Ponte Preta. Porque no fundo, sabia que, independente dos homens, a esperança seria renovada adiante. Sem crucificar ninguém. Preservando os homens. E com amor incondicional a instituição.

Mais do que um presidente ruim, Sebastião Arcanjo é uma oportunidade histórica perdida. Verdade. Mas tal oportunidade pode ser resgatada adiante. Se não for com ele será com outro nome. Melhor preparado, capacitado. Mas desde que o atual ocupante do cargo cumpra a sua missão. Até o último dia.

A torcedor pontepretano tem tarefas a cumprir. A primeira é ajudar o time a escapar da terceira divisão. A seguinte é exigir que os homens sejam despidos de vaidades e apenas e tão somente pensem na Ponte Preta.

E que o Estatuto não seja rasgado.

Que ele seja cumprido.

Cumprir o estatuto é dar condições para que Tiãozinho entregue o cargo ao seu sucessor. No voto. Porque democracia pressupõe suportar os bons e os maus momentos. Para que o futuro seja melhor e duradouro.

(Elias Aredes Junior-foto de Diego Almeida- Pontepress)