Análise Ponte Preta: uma viagem no passado e busca de explicações para o sequestro da felicidade

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Quando você diz que está tudo bem na sua vida? Quando está tudo de vento em popa? Quando as expectativas são formadas em um patamar baixo não é preciso muita coisa para ser feliz. Um trabalho legal, um circulo de amigos, parentes com saúde e a capacidade de fazer uma viagem ou outro são ingredientes que transformam a vida de qualquer ser humano.

O que faz um torcedor feliz?

Taí uma resposta complexa.

Para cada time um cenário deve ser desenhado, um ingrediente deve ser colocado. Gigantes como Flamengo, Palmeiras, Atlético Mineiro e São Paulo só podem produzir um único fruto: titulos.

Taças.

É o único elixir possível para curar a ambição e sede de vencer.

Faça uma extensão da pergunta: o que faz o torcedor pontepretano feliz? Eis aí uma resposta intrincada e que produz muitas camadas.

De 2011 a 2013, a felicidade do torcedor pontepretano era brigar pelo título da Sul-Americana, conseguir a manutenção na divisão de elite do futebol nacional e encher as arquibancadas, seja em Campinas, Mogi Mirim ou no estádio do Pacaembu.

De 2014 a 2016, a felicidade era buscada no alcance do limite. O vice-campeonato da Série B, as boas colocações nos Brasileirões de 2015 e 2015 e boas participações na Copa do Brasil e na Sul-Americana faziam com que todos acalentassem a esperança de que um novo momento seria construído.

O dinheiro aparecia, jogadores de boa qualidade eram arregimentados e a conquista do titulo de envergadura parecia questão de tempo. Essa sensação teve seu ápice no primeiro semestre de 2017, quando técnico Gilson Kleina montou um time veloz e destemido e com o trio de ataque formado por William Pottker, Lucca e Clayson. A exibição contra o Palmeiras e a vitória por 3 a 0 deixaram evidenciados de que algo bom iria acontecer.

Veio a final do Paulistão contra o Corinthians, a derrota por 4 a 0, o empate na Neo Quimica Arena e uma ducha de água no torcedor pontepretano. A punhalada final veio no final do ano com o rebaixamento á Série B e o acumulo de dividas que gerou diversas ações na Justiça Trabalhista.

Eis que a administração que em quatro anos teve José Armando Abdalla Junior e Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho. Neste periodo, os dirigentes conseguiram o que parecia impossivel: a construção de uma falsa sensação de felicidade.

Na Série B, o time embalava em determinado momento e vacilava no instante final. Nada de uma sensação concreta de luta pelo acesso. Exemplo acabado disso foram as edições de 2018, quando a Macaca ficou em quinto lugar com 60 pontos e um sentimento de frustração após o empate sem gols com o Avaí.

Dois anos depois, nova miragem, quando o time terminou com 57 pontos e na sétima posição. No Paulistão, a paralisação em 2020 deu o fôlego para o time escapar do rebaixamento e até disputar a semifinal contra o Palmeiras. Mas no fundo todos sabiam que era ilusão vendida a preço de custo.

E hoje? E em 2022? Perceba que boa parte do tempo, a diretoria pontepretana pede e suplica para que o torcedor entenda o atual quadro do clube. Contas bloqueadas, dificuldades para pagar salário, equipe de baixa qualidade técnica e um saldo amargo, que foi o rebaixamento à Série A-2 do Campeonato Paulista. É como fazer um pedido para que o torcedor pontepretano renunciasse a felicidade. Em nome da instituição que ele se conformasse de que não apareceriam boas noticias.

Só existe uma meta: sobrevivência.

Em nome dessa sobrevivência e dessa renúncia a felicidade, o torcedor tivesse que suportar todo e qualquer imprevisto. E que esperava que após a renuncia da felicidade, a verdadeira alegria apareceria em médio e longo prazo.

Eu entendo e compreendo o cansaço do torcedor pontepretano.

Neste periodo de renuncia à felicidade, nem direito de reclamar ele tem. Afinal, se ele disser que não aceita o rebaixamento á Série A-2 de imediato um adepto do MRP vai dizer em alto e bom som que há desequilibrio na balanço porque não leva em consideração os seis rebaixamentos de quem agora está na oposição.

Fica a pergunta: um erro justifica o outro? É preciso absolver o hoje e condenar o ontem? Definitivamente não.

Sim, eu sei e você sabe que a atual administração e seus componentes vão lutar com todas as forças para dizer que eles são ótimos. Afinal, eles afirmam construir campanha digna na Série B, realizam reformas nos alojamentos do Majestoso e mais medidas que ninguém vê. Enquanto isso, com direito, a oposição cobra o cumprimento de todas as promessas feitas na campanha.

Enquanto isso, abraçado aos amigos ou ao seu filho, o torcedor pontepretano vê tudo isso e só pensa: pouco me importa quem de vocês se considera o melhor. Eu só quero minha felicidade de volta.

(Elias Aredes Junior)