Guarani e sua dificuldade em entender que é uma entidade de interesse público

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Não é incomum encontrar torcedores bugrinos de cara virada quando se deparam com críticas neste espaço ou em outros veículos de comunicação. Utilizam discursos prontos e argumentos superficiais para impedir o trabalho da imprensa . Insistem na tese de que alguns fatos se referem a esfera interna do clube e nada pode ser revelado. Por vezes afirmam de pés juntos que existe um privilégio direcionado a Ponte Preta. Um claro desvio de foco e ignorância do que cerca um clube de futebol.

O Guarani é uma entidade privada? Sim. Mas ela tem interesse público e goza de privilégios públicos que justificam o escrutinio da imprensa. Inclusive na tentativa de obter íntegra de contratos de jogadores e determinadas decisões administrativas. Além de ser de interesse público, o Guarani e outros clubes brasileiros desfrutam de regalias no espectro tributário brasileiro que justifica a prestação de contas.

Pense. Ao realizar ter a possibilidade de participar de um programa como o Pro Fut ou obter facilidades para pagamento de impostos atrasados ou gozar de benefícios na quitação de tributos no âmbito municipal, uma via de mão dupla é estabelecida: o Guarani deixa de gastar determinada quantia de dinheiro e certo valor não entra nos cofres públicos para beneficiar a sociedade. Ou seja, é dinheiro seu, meu, nosso que o Guarani e outros clubes do futebol brasileiro deixam de encaminhar ao poder estabelecido. Nada mais natural que saibamos qual o direcionamento de recursos que deveriam viabilizar a construção de creches, escolas, postos de saúde e outros empreendimento.

Dou um exemplo prático de acesso a privilégio: a lei 14919-de-17 de novembro de 2014 estabeleceu uma série de facilidades para clubes de práticas desportivas quitarem impostos atrasados e também contas atrasadas da Sanasa. Em alguns casos, o programa concedia desconto de 85% para débitos á vista. O clube que optasse pelo pagamento dos débitos em duas, três ou quatro parcelas, teria desconto de 80%; de cinco a 12 parcelas, 75%; de 13 a 24, 70%; de 25 a 60 vezes, 60% o desconto é de 60%; de 61 a 96 parcelas, 50% de desconto. A partir de 13 parcelas, seriam acrescidos juros compensatórios de 5%. O contribuinte comum ou empresário teve acesso facilidade de tal dimensão? A resposta até pode ser sim, mas que os clubes campineiro (incluindo no caso o Guarani) não tinham do que reclamar, ah, disso não há dúvida.

Então cabe a pergunta: o que justifica a blindagem em relação a jogadores, comissão técnica e até a dirigentes diante destas facilidades oferecidas não são ao Guarani? Como explicar esse jogo de esconde esconde a cada partida, como se o Guarani não tivesse satisfação a dar não ao torcedor e sim ao contribuinte de âmbito municipal, estadual e federal? Mais: não está na hora do torcedor bugrino passar a entender que o futebol envolve muito mais do que o gramado, 11 jogadores e os três pontos na tabela? Essa conscientização não evitaria dissabores no passado?

Se o Guarani e qualquer outro clube desejar blindar-se do escrutínio da imprensa e não quiser dar satisfação dos seus atos, é simples: pague integralmente os impostos como qualquer empresa privada e abra mão de todo e qualquer privilégio por parte do poder público. A partir daí será possível começar uma conversa civilizada sobre o tema.

(análise feita por Elias Aredes Junior)