O Guarani não quer conversar com seu torcedor

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Véspera de jogo decisivo do Guarani contra o Votuporanguense e a imprensa alvoroçada, atrás de notícias da preparação para o confronto decisivo da Série A-2. Eis que de repente, todos tomam conhecimento de que não haverá coletivas. Nem dos jogadores ou do técnico Pintado. Em resumo: o Guarani não quer conversar com seu torcedor.

Sim, a expressão parece forte, mas não há como tirar outra conclusão. Quem conhece a história da imprensa esportiva detecta que desde o início, os meios de comunicação de massa se interessaram pelo futebol porque o cidadão comum, o trabalhador, o fã de futebol comparecia aos estádios e queria saber aquilo que pensava o seu craque preferido ou o treinador de plantão.

Quando responde uma pergunta, os personagens do mundo da bola não satisfazem meios de comunicação e sim o torcedor sofrido, que ganha salário mínimo e que deseja entender porque seu time do coração ganhou, perdeu ou empatou dentro de campo.

Por enquanto, não há justificativa apresentada por Horley Senna, nem por Waldir Lins ou por qualquer membro da diretoria. Se o problema fosse com a imprensa, a solução era simples: bastava utilizar a estratégia de Mário Celso Petraglia, que no período de presidência do Atlético-PR bloqueou o acesso da imprensa aos treinamentos, proibiu declarações as rádios e utilizava o site oficial para expor as declarações e estabelecer um diálogo com o torcedor.

Até o fechamento deste artigo, ás 17h02, na parte de destaques principais do site oficial, não existia nenhuma declaração de jogadores do Guarani sobre o jogo desta terça-feira. Algo que poderia ser filtrado e controlado. Nada disso. A decisão é afastar-se do torcedor.

Preservação do elenco? Falta de explicações sobre a péssima fase do time? Ausência de controle emocional para suportar o momento de pressão? Quanto mais esconde ou posterga as declarações, mais especulações o próprio Guarani fomenta na cabeça do seu torcedor e dos profissionais de imprensa.

Nas democracias modernas, as instituições, empresas e figuras públicas utilizam o conceito de liberdade de expressão não só para falar aquilo que vier na telha, mas para exercer a transparência e o comedimento de modo claro e concreto. Clubes espanhóis e ingleses, reconhecidos por sua ânsia de controle nos atletas, nunca deixam de oferecer um atleta ou treinador na véspera dos jogos. Sabem que é preciso sustentar um vínculo minimo.

Você pode argumentar que podem acontecer declarações após o jogo. Sinto informar, mas não adianta. Para um país que viveu 21 anos de ditadura, com pessoas que lutaram com unhas e dentes pela liberdade de expressão, todos os mecanismos democráticos devem ser exercidos de maneira plena. Não existe meia democracia ou liberdade de expressão pela metade. Ou é ou não é.

Se o Guarani vencer a atitude está justificada? Nem tanto. Queremos que seja um equívoco, mas o bloqueio de declarações nos últimos dias deixa no ar a impressão de uma instituição fechada, encurralada e que tem medo e receio do principal patrimônio: o torcedor. Afinal de contas, a gente só conversa, dialoga, dá bronca e reclama com quem a gente ama. Com este simples gesto, diretoria e comissão técnica bugrina transmitem a impressão que o amor de dentro da fora pode ter arrefecido. Se isto não for verdade, é urgente esclarecer e estabelecer um canal de ligação com o torcedor. Antes que o divórcio seja definitivo. E tal atitude ninguém quer.

(análise feita por Elias Aredes Junior- Foto feita por Elias Aredes Junior)