Ponte Preta: condenar o técnico Marcelo Oliveira é produzir absolvição aos verdadeiros culpados

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Torcedores da Ponte Preta utilizam as redes sociais para vociferar contra a atual campanha na Série B do Campeonato Brasileiro. Os 36 pontos somados não servem de argumento para amenizar a campanha de Marcelo Oliveira. Muitos pedem sua saída. Em contrapartida, memes e prints são espalhados para realizar uma homenagem para João Brigatti,  com boa campanha com o Paysandu na Série C do Campeonato Brasileiro.

Análise tem que ser feita sem fanatismo e incoerência. E aqui não vai nada contra a pessoa e o profissional Brigatti. Pesquise na área opinativa da Alvinegra neste site e você lerá dezenas de artigos em que ponderei que deveria existir paciência e elenquei pontos positivos de sua trajetória, especialmente a disposição de estudar.

O  torcedor precisa entrar na máquina do tempo. Porque essa mesma pessoa que condena Marcelo Oliveira e absolve Brigatti, pediu a cabeça do ex-goleiro quando o time foi eliminado da Copa do Brasil após uma exibição decepcionante contra o América Mineiro. E a saraivada de criticas nas redes sociais após a derrota por 3 a 0 diante do Cruzeiro? Quem era o técnico? Brigatti.

Aos que dizem que antes existia um trabalho melhor rebato com dois pontos. Brigatti usufrui (com merecimento!) da absolvição dada a qualquer treinador que tenha ligações com a Ponte Preta. Errou não tem problema; acertou vira deus. E mais: apesar do seu esforço e dedicação, o trabalho naquele momento já era inferior na questão tática em relação aos concorrentes como Juventude, Cuiabá sob a direção de Marcelo Chamusca e a Chapecoense de Umberto Louzer. Quem acompanha o campeonato sabe do que falo.

Brigar contra os fatos é temerário. Na Ponte Preta, treinador para dar certo precisa ambicionar projeção na carreira. Querer algo a mais. Foi assim com Gilson Kleina em 2011/2012, com Guto Ferreira em todas as suas passagens e na campanha de Jorginho em 2013.

Coloque-se no espelho e admita torcedor: você celebrou quando Marcelo Oliveira foi contratado. Pelo seu currículo e histórico. Ignorou os dois anos dele fora do mercado. Agora, te pergunto: se o contratado para o lugar de Brigatti fosse Léo Condé ou Pintado? Ou você faria festa? Evidente que não. Iria malhar a diretoria. Iria acusa-la de falta de ambição, de mesmice, etc, etc, etc… Em resumo: as arquibancadas também precisam mudar a sua visão a respeito do que é a Ponte Preta e qual o seu perfil.

Ou seja, o X do laço está longe de ser o treinador. Colabora, mas não é decisivo. E aí temos que mirar os olhos ao que interessa: os gabinetes.

O erro começou quando o presidente da Ponte Preta, Sebastião Arcanjo, mesmo com todas as evidências contrárias estendeu o contrato de Gilson Kleina em dezembro do ano passado. Formou um time para atender aos seus pedidos e após a sua demissão, contratou Brigatti e indiretamente deu o seguinte recado: “se vira”. Brigatti é profissional ao extremo. Não é super homem.

Como pedir para desenvolver um trabalho sem respaldo da diretoria executiva, que transmite a impressão de encontrar-se muito mais preocupada em atender as demandas de bastidores do que do departamento de futebol? Noticias transbordavam que os jogadores tinham resistência a abordagem do técnico. O que fez a diretoria executiva? Discurso? Isso todo político faz. Importava a adoção de  medidas que façam com que atleta tenha noção de quem está no comando e que ele, atleta profissional, não é maior do que o clube. Pois é. Nada foi feito. E Brigatti pagou o preço. E o pato. Como na atualidade Marcelo Oliveira.

Por que a torcida não pega no pé de Vanderlei Pereira e Sérgio Carnielli, integrantes do colegiado de futebol e atualmente afastados pela Justiça? Nunca é demais: a Ponte Preta caiu no Brasileirão em 2017. Vanderlei era o presidente da diretoria executiva. E tinha todo o apoio do presidente de honra afastado. Se a Macaca está pelo terceiro ano consecutivo na Série B, a fatura pertence a eles. E nós, cronistas esportivos, devemos assumir a nossa parcela de culpa. Somos muito benevolentes em relação as decisões e a influência dos dois personagens. Temos que ser mais incisivos.

Sem um debate profundo e sem vícios, não há como pensar em construir uma Ponte Preta competitiva e que dê orgulho ao seu torcedor. Malhar e condenar Marcelo Oliveira apenas isenta os verdadeiros culpados desta campanha errática.

(artigo feito por Elias Aredes Junior- foto de Álvaro Junior/pontepress/arquivo-divulgação)