Se o futebol brasileiro fosse uma cidade seria Gotham City. E a Ponte Preta? Um bairro tomado pelo ódio e rancor

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Evidente que o acirramento da pandemia do Coronavirus deixa os ânimos das pessoas aflorados. As ideias são defendidas com paixão. Algumas resvalam para a grosseria e a estupidez. Em lances distintos, utilizamos um espirito infantil como defesa.

No grupo do Whatsapp da Ponte Preta do Só Dérbi, tem tudo isso. Trocas de ideias intensas. E vez por outra, nos debates, surge a reclamação de que tratar de assuntos fora do gramado, excetuando-se a Macaca, é algo chato. Tem que falar apenas de contratações e bola rolando. E só. Li uma destas queixas. Fiquei triste. Fui para sala assistir a um filme, descontrair a mente na tarde de domingo.

Eis que me deparo com “Batman Begins”, de 2005. Um filme que mudou totalmente a percepção que tinha a respeito do personagem da DC Comic.

De repente, o seriado pueril e inocente da década de 1960 perdeu o sentido. Um choque de realidade.

O Batman do século 21 nos cinemas é sombrio, tenso, violento e com corruptos por todos os lados.

O retrato de uma cidade – Gotham City- sitiada pelo crime. E que exige de seus cidadãos atributos como atenção, concentração e união de esforços para viver dignamente. E auxiliados por um anti-herói. Batman é, antes de tudo, um psicopata. Que acredita na ação solitária como remédio para curar os males de um ambiente contaminado pela distorção de valores. Mesmo que ele, no fundo, seja um doente. Ainda que queira fazer o bem. Do jeito dele.

Ao assistir as cenas finais, a associação ao futebol e ao momento vivido pela Ponte Preta foi imediato. Não há como encarar a Alvinegra de maneira imatura e precoce. Não dá para falar apenas do gramado.

A Ponte Preta na atualidade é o reflexo de todo o futebol brasileiro: sombrio, autoritário, violento, estupido, cruel e que algumas pessoas encaram as pessoas como meros fantoches.  Um futebol que não liga para o torcedor. Que visa o dinheiro pelo dinheiro. Que considera a crueldade como caminho para fazer o bem. Um local afeito para a fabricação de pessoas megalomaníacas, detentoras de todas as verdades e que trucidam e humilham aqueles que desejam fazer o contraponto. O futebol  é podre. Fede. E o nosso olfato, misturado com nossa paixão, nem consegue detectar nada mais.

Jornalistas independentes são como o Comissário Gordon da trilogia do diretor Christopher Nolan: um policial obcecado por Justiça, decência, mas que fica paralisado diante de uma população alienada aos acontecimentos e de homens públicos tomados pelo delírio do poder ou da própria expectativa de chegar e sentar na cadeira. Algo que fica mais claro no segundo filme da série “O Cavaleiro das Trevas”, em que o promotor de justiça vira o alucinado e maldoso “Duas Caras”.

Se o futebol brasileiro fosse uma cidade, seria Gotham City e a Ponte Preta um bairro de um município  corroído pela corrupção. E sem o Batman para salvar. Não há como ter uma visão infantil, prematura e alienada diante de tamanha selvageria.

(Elias Aredes Junior)