Só existem pontepretanos da gema no comando do futebol do clube. Resolveu alguma coisa?

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Campinas é cosmopolita. Universidades, fábricas de ponta, gente oriunda de várias partes do Brasil e uma tendência a abraçar o moderno, o diferente. Isso não quer dizer que descarte a contradição. Falamos de provincianismo, daquele costume de que só é bom quem for “campineiro da gema”. “Estrangeiros” são bem vindos, mas só quem sempre pisou na Terra das Andorinhas sabe aquilo que é melhor.

O futebol e a Ponte Preta não são dissociados. Por anos e anos centenas de torcedores defendiam a tese de que apenas os pontepretanos de “raiz”, só os genuinamente torcedores da Macaca poderiam dirigir o clube. Competência, eficiência, encontrar-se antenado com a atualidade eram requisitos dispensáveis. Bastava dizer que vestia a camisa e pronto.

Os fatos entraram em campo e detonaram as premissas. Nos últimos 10 anos, três treinadores tiveram resultados exitosos e nunca vestiram a camisa da Ponte Preta como jogador, seja em categorias em base ou nos profissionais: Guto Ferreira e o acesso na Série B de 2014, Jorginho com o vice-campeonato da Sul-Americana de 2013  e Gilson Kleina com a campanha e a arrancada no Campeonato Paulista desde ano. Quem pode apontar qualquer um desses como “pontepretano de raiz”? Ninguém.

Em contrapartida, a atual campanha no Campeonato Brasileiro pode ser o coroamento do fracasso da tática do casulo. O técnico é Eduardo Baptista, criado nos corredores do Majestoso e que trabalhou também como preparador físico na agremiação.

O gerente de futebol é Gustavo Bueno, filho do maior jogador da história do clube e que chegou atuar nas categorias de base. Aranha, por sua vez, é preparado por André Dias, ex-goleiro da agremiação na década de 1980. O que dizer então do auxiliar técnico João Brigatti, identificado com a Medula? Mesmo assim, tal ligação é insuficiente para conter a fúria da torcida e a frustração pela ameaça de rebaixamento.

Independente do resultado ao final da 38ª rodada, a Ponte Preta tem uma lição preciosa nas mãos.

Não adianta ficar no casulo, agarrar-se a dogmas e doutrinas ultrapassadas e achar que a blindagem da arquibancada virá naturalmente.O torcedor não pode cair no chavão batido de considerar o futebol como algo imprevisível e não há como estipular se existe algo certo ou errado.

Balela. O futebol quer profissionalismo, extermínio de qualquer paixão na hora de tomar decisões e especialmente capacidade de tomar as decisões corretas, mesmo se os recursos forem escassos. Os atuais responsáveis pelo departamento de futebol da Ponte Preta são honestos, bem intencionados mas deveriam aprender: paixão por camisa não assegura ninguém na selva da bola.

(análise feita por Elias Aredes Junior)