Uma reflexão sobre a live com Tim Maia do Guarani e a conclusão: nada é mais importante no futebol do que o torcedor. Nada!

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Futebol gera frases, textos e declaração das mais variadas qualidades. Para o bem ou mal. Nos últimos 10, 15 dias algo chamou minha atenção: uma voz exótica, dotada de frases que resvalam entre a graça e o trágico. Fui atrás e conheci Diego Henrique Buglia Soares, vendedor de automóveis. Conhecido como Tim Maia do Guarani.

Entre o receio e a curiosidade, fiz um convite para que participasse de uma live no Só Dérbi.

Trocamos ideias na semana e acertamos o procedimento para participação no programa e na sexta feira, por duas horas Tim Maia do Guarani fez e aconteceu: contou histórias, criticou a diretoria bugrina do passado e do presente, relembrou enrascadas pelo Brasil afora e cunhou uma frase que resume a validade do encontro: “Eu não quero nada em troca do Guarani, só desejo que o time em campo de verde e branco”.

Não estou aqui para defender Diego. Assim como eu e você, Diego (ou Tim Maia) tem vitórias, derrotas, benfeitorias, pecados, falhas, deslizes, atos de desespero ou determinação para fazer tudo pelo seu clube. Personagem completo. Um brasileiro comum, mas que tem um brilho cujo alcance é impossível de mensurar. Perfeito? Nada disso. Aliás, quem é?

Existem diversos Tim Maia´s por aí. Nas ruas, no trabalho, nas escolas.  Com potencial para contar histórias hilárias e espetaculares. É a alma e o combustível do futebol. Uma peça que ao se juntar com outros que compartilham a mesma paixão representa um mosaico de cor, alegria e espontaneidade.

Pensei: por que demorei tanto tempo para descobrir uma figura tão rica e especial? Como entender esse distanciamento do jornalismo esportivo campineiro e brasileiro para a verdadeira razão de ser da modalidade?

Por que não descobrimos mais Bozó´s no Guarani e novas versões de Conceição ou de Donana na Ponte Preta? O que impede essa reconexão das arquibancadas, da verdadeira razão de ser do futebol com os profissionais de imprensa?

Em Campinas não é difícil  construir a conclusão.

Nós, jornalistas esportivos somos cegos por indiretamos estamos envolvidos em uma disputa sem sentido.

Divididos em dois grupos.

O primeiro enxerga o futebol como um tubo de ensaio, apego total a ciência. A intenção é estudar e se esmerar não por uma questão somente de aprimoramento e sim como forma de  defesa contra os adversários que por vezes estão no próprio ofício. Estou enquadrado neste grupo.

O segundo coletivo de cronistas esportivos infelizmente despreza a ciência, dirige por vezes expressões depreciativas contra o conhecimento, nutre preconceito contra o mundo acadêmico  e parece considerar que entender de bola rolando é suficiente para entender um esporte tão complexo e interligado a nossa identidade cultural e que depende sim da ciência para evoluir.

Os dois grupos tem diversos representantes. E ninguém chega a um acordo. Todos somos derrotados. De goleada. E no final, ignoramos preciosidades que estão diante de nosso nariz. E não enxergamos.

Enquanto isso, o mundo gira, nós, cronistas, nos engalfinhamos, comentamos resultados, pedimos a cabeça do treinador ou ficamos abastecidos de uma vaidade obtusa e inconsequente e que por vezes revela tudo aquilo de menor nobreza que existe em nós. Perdemos o melhor: o torcedor. A sua alma. Diego, ou Tim Maia veio nos alertar sobre o nosso pecado.

É preciso sim cobrar dirigentes, reivindicar melhoria de infraestrutura e exigir que o Guarani e a Ponte Preta se recoloquem no lugar que lhes é direito na geografia da bola. Temos que encaminhar informação ao torcedor sobre todas as vertentes do futebol. Sem exceção. Torcida consciente é quem vai tirar a dupla campineira do atoleiro. E precisamos correr o risco de nadar contra a maré, desagradar até. Precisamos dizer e escrever aquilo que o torcedor precisa ouvir e não aquilo que ele quer ouvir.

Só que nunca, jamais, podemos ignorar o potencial de cada ser humano que veste a camisa do seu clube do coração. É ali que está a razão de ser e de viver do jornalismo esportivo. Isso não pode ser esquecido. Jamais.

Por nos fazer despertar para esta realidade só posso dizer: obrigado Tim.

(Elias Aredes Junior)