Ponte Preta: luta contra o racismo não tem dono. É uma missão de todos!

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Não desisto. Alguns conceitos devem ser insistidos. Sempre. Detectei a revolta de  torcedores pontepretanos com as declarações da diretoria executiva a respeito da luta contra o racismo a partir da morte de George Floyd nos Estados Unidos. Alguns consideram que isso não pode ser feito. Seria misturar futebol com político. Discordo. Veementemente.

Agremiações elitistas que nunca afirmaram tal tendência de luta contra a discriminação racial até podemos compreender. Reprovamos mas entendemos. Também constato e apoio que a instituição não pode e não deve pender para lado A ou B no espectro político. Na questão do racismo não há como pedir para se adotar o silêncio. Seria um crime de lesa pátria contra a própria história da Ponte Preta. É um ato cívico.

Como ficaria a alcunha de clube que abraça a democracia racial se houvesse silêncio neste instante por qual passa o mundo e no qual todos os clubes de futebol publicam seus posicionamentos? O que diria o torcedor da Alvinegra se fosse confrontado com a omissão em uma época em que o mundo está em clara conflagração e clamor para que os direitos dos negros sejam atendidos?

Abrir as portas aos negros e ter um presidente oriundo da comunidade negra, seja bom ou ruim administrativamente, embute a responsabilidade de assumir posições em um tema que, antes de tudo, é de busca de cidadania. Luta contra o racismo não tem dono. É de todos.

Para aqueles que se incomodam com o tema, eu problema um exercício de imaginação. Todos frequentam as arquibancadas. Conhecem amigos pontepretanos. Coloque-se no lugar do seu amigo negro e que ama Macaca as diversas vezes que foi vitima de batida policial sem motivo; nas dificuldades que ele tem em conseguir uma recolocação no mercado de trabalho e conviver com o fato de ganhar menos, apesar de contar com uma formação que uma pessoa não negra. Isso não é fantasia. São os dados do IBGE, do IPEA. É a realidade nua e crua da realidade brasileira. Que dá pouca oportunidade aos técnicos negros e dirigentes negros. Um racismo velado e cruel. O silêncio resolve? Vale a pena ver o sofrimento e o revés de quem senta ao seu lado e não se comover? Será que você é amigo dessa pessoa? Pense e reflita.

Lutar contra o racismo é, acima de tudo, abraçar quem senta do seu lado no Majestoso e vive na pele um sistema excludente. E tem orgulho de uma paixão que é um grito de cidadania em um mundo tão selvagem.

(Elias Aredes Junior)