A Ponte Preta joga mal com Gilson Kleina? Do que adianta crucificar e esquecer de dividir o fardo do planejamento equivocado?

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Quem teve a chance de acompanhar de maneira próxima o trabalho de Gilson Kleina na Ponte Preta em uma de suas passagens sabe que trocar uma prosa com ele é um instante prazeroso. Talvez seja um dos últimos representantes da linhagem de treinadores com capacidade de entender, compreender e valorizar o trabalho da imprensa. Escuta, pondera e respeita. E lógico, toma suas decisões.

Isso não exclui o fato de ser um ser humano com fragilidades, emoções e desconfianças. Percebo na atualidade um técnico acanhado, triste na maioria das entrevistas coletivas. Alguém mais na defensiva do que na fissura de explicar o desenvolvimento do seu trabalho.

O sentimento surgiu após o jogo contra o Londrina. “Entendo as críticas, acho que às vezes fogem um pouco e doem na gente, mas não posso baixar a cabeça. Estou tentando passar confiança para melhorar o astral deles, porque a gente só vai sair dessa situação com união. Nada resiste ao trabalho e a resiliência vai continuar”, disse.

Digo de cara: entendo a dor sentida por Kleina. Levar criticas de todos os lados é doloroso. E não é fácil para quem exerce o papel de critico. Falha no trabalho? Sim. É decepcionante. A impressão que transmite é que o repertório não é o adequado. Repito: parece. Por que? Às vezes o treinador conduz, ensina, ensaia e na hora H, o boleiro não executa. Ou não consegue. Que culpa ele tem?

Considero, no entanto, que ele tem razão em um ponto. Talvez o essencial: o fardo não está sendo dividido. Gilson Kleina é colocado por parte da imprensa, torcida é opinião como culpado único por todos os males.

Futebol é processo. Cada profissional colabora para a montagem do produto final. Se na atualidade a Ponte Preta joga mal é porque em boa parte o elenco tem jogadores ruins na parte técnica. Se analisarmos com frieza, a metodologia de Kleina é a mesma aplicada, por exemplo, em 2017, quando foi vice-campeão paulista e no ano seguinte, cuja arrancada de vitórias deixou a Alvinegra em quinto lugar na Série B.

Nestas duas ocasiões, o time contava com algo inexistente na atualidade: jogadores de qualidade. Querem uma prova? Então vai lá. Vejam a escalação inicial da equipe que perdeu do Corinthians no Majestoso na final do Paulistão: Aranha; Nino Paraíba, Fábio Ferreira, Yago (Kadu) e Reynaldo (Artur); Fernando Bob, Elton e Jadson (Renato Cajá); Lucca, William Pottker e Clayson. Pergunto: qual integrante do elenco atual poderia encontrar-se naquele time? Talvez Moisés. Na reserva.

O ponto vital: quem montou o time? Quem contratou esses atuais jogadores? Quem foi o responsável pela montagem disso que está aí? Resposta? Tiãozinho avalizou, Alex Brasil contratou e Fábio Moreno disse amém. E Alarcon Pacheco tenta trocar o carro com o pneu em movimento. Qualquer outro profissional talvez melhorasse a equipe, mas não ao ponto que o torcedor deseja.

Não podemos acalentar memória seletiva. Deixo claro: Kleina pode melhorar. Deve arquitetar uma equipe competitiva. E tenho convicção de que busca excelência. O futebol atual, no entanto, cada vez mais complexo e competitivo, não permite que apenas uma única pessoa seja considerada culpada por todos os males. Dividir responsabilidades e ser capaz de fugir de adjetivos providos de vilania é a saída para que o trabalho seja analisado. Está na hora de fugirmos dos clichês

(Elias Aredes Junior-foto de Diego Almeida-Pontepress)