Crise conjugal: torcedor pontepretano e diretoria iniciam 2016 dormindo em quartos separados

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Pra quem vê a atual situação da Ponte Preta de fora, o cenário parece tranquilo para os que comandam o futebol da Macaca e tomam as decisões referentes ao clube. Único time do interior de São Paulo a figurar na elite do futebol nacional, a Ponte Preta é vista hoje como um exemplo de sobrevivência no futebol moderno.

Mas analisando a situação mais de perto, a coisa não é bem assim. O torcedor não quer só sobreviver, ele quer brigar por algo a mais e sair da fila que o atormenta há 116 anos.

A principal cobrança atual é a falta de ambição da diretoria, que alega a dificuldade de brigar com os grandes no mercado por reforços, o que fatalmente reflete dentro de campo.

A dificuldade é verdadeira e não só desculpa esfarrapada. O futebol brasileiro se apresenta da forma mais injusta de todos os tempos, com uma distribuição de verba desigual que afeta os clubes médios, principalmente se tratando da Ponte, preterida dentro da Federação Paulista, que já conta com os grandes Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos.

Mesmo assim, o torcedor fanático da Macaca não se acomodou com o fato do time sobreviver bem ao cruel mundo do futebol e hoje cobra mais ambição de uma diretoria que sempre assumiu a “política de pés no chão’’ , encabeçada pelo atual presidente Vanderlei Pereira, sob a batuta do onipresente (ou seria onipresidente?) Sérgio Carnielli.

A política de pés no chão é certa e tende a aparecer mais com a adesão dos clubes ao PROFUT, mas a maior contradição dentro da Ponte é em torno de um time que se reconstruiu e vive hoje o seu melhor momento financeiro com cotas mais razoáveis, o maior patrocínio da história, uma melhor exposição da marca, além das vendas recentes de atletas como Cicinho, Cléber, Renato Cajá, Pablo, Renato Chaves, entre outros. A sensação que fica pro torcedor da Ponte é um ciclo sem fim de esperança com o surgimento de bons valores, mas que logo se vão e deixam apenas o sabor amargo de um curto passado de conquistas incompletas.

Ações de marketing como a cooptação de novos torcedores mirins com o soccer camp, a associação da marca Ponte Preta a inúmeros produtos de diversos segmentos como alimentação, educação, maternidade, linha de roupas, entre outras coisas, são ótimas e fazem parte do anseio do torcedor por consumir o clube da cabeça aos pés. Mas nada disso trará de volta o fogo da paixão que move o torcedor de futebol ao campo. É preciso demonstrar ambição explorando o principal produto de consumo: o futebol. A bola rolando.

Antes de se inspirar nos gigantes do futebol e tomar atitudes como afastar a imprensa da rotina do estádio e pensar em arena multiuso, é preciso se inspirar no principal: a montagem e manutenção de um time de qualidade. Bater na trave algumas vezes, pode significar que as coisa estão funcionando. Mas bater na trave várias vezes e recomeçar quase tudo do zero, ano após ano, só gerará no pontepretano a inércia da esperança se acabando em frustração.
Nem tudo é um desastre, nada está acabado e destruído. Tudo depende apenas de um melhor entendimento de todas as partes, do que é hoje a Ponte Preta e do que pode ser amanhã a Ponte Preta.

O primeiro passo importante a ser dado é a diretoria não se fechar num mundo próprio, onde só vale a razão daqueles que cercam esse universo habitado unicamente por pessoas do mesmo círculo de confiança. É preciso uma maior pluralidade de opiniões a respeito de escolhas importantes. O torcedor não se sente ouvido. Um caso recente que exemplifica isso, foi a contratação do goleiro César, do Flamengo. Com a saída de Marcelo Lomba, boa parte da torcida gostaria de ver Aranha de volta ao clube e se manifestou através das redes sociais.

Ao optar pelo jovem César, o departamento de futebol da Ponte Preta se coloca sozinho na linha de tiro da torcida. Se trouxessem Aranha e desse errado, estariam apenas satisfazendo uma vontade do torcedor que teria mais paciência com o atleta, por se tratar de um ídolo. Ao optar pelo jovem César, o departamento de futebol fica abandonado, sem o respaldo da torcida e correndo o risco de queimar três goleiros em menos de um semestre.

O diálogo limpo é a base forte de uma relação. Saber ouvir o que o outro lado da paixão tem a dizer é sempre importante e evita crises em relacionamentos. Na Ponte Preta, um dos lados se finge de surdo, enquanto o outro grita forte por dias melhores. A sintonia entre ambos parece estar longe do Majestoso nesse momento.

 

Artigo de autoria de Paulo do Valle