Análise: quando as mulheres terão voz no Guarani e no Brasil?

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Antes do jogo desta noite de quinta-feira contra o Palmeiras, o técnico Thiago Carpini tratou de fazer uma defesa veemente do atacante Juninho Piauiense e sua explicação foi rapidamente absorvida pela torcida bugrina, que de modo quase unânime resolveu dar um voto de confiança jogador que foi indiciado por ter agredido a ex-namorada.

A defesa de Carpini foi detalhada. “Eu dei o aval também para que o Juninho viesse. Apesar de se ouvir, ele só tem 20 anos. Os erros aconteceram e nada justifica os erros que aconteceram. Ele se arrependeu. Ele ainda só tem 20 anos. Isso aconteceu com 17 anos e já se passaram três. Em três anos, ele foi do craque e da promessa ao marginal. É o processo que eu falo, a nossa parcela de contribuição. A gente contratou um atleta tecnicamente muito bom e promissor. Temos informações. Algumas coisas vieram em relação a isso. Da maneira como foi viabilizado o empréstimo, nós temos cláusula”, completou.

Este jornalista já se posicionou. Para recomeçar a carreira seria melhor que Juninho Piauiense jogasse no exterior. Aqui, sempre terá que dar explicações. E a instituição também. Muitos discordaram da minha visão. É do jogo.

Mas apesar de uma tentativa de Carpini de valorizar o protesto das garotas do “Bugrinas em Ação” é impossível fugir de uma constatação: a mulher não tem voz no futebol,  reflexo da sociedade.

Se as torcedoras bugrinas não querem o jogador e se sentem incomodadas, o que impede de ouvi-las e levar em conta suas opiniões?

Vou além: os torcedores que aprovam a contratação de Juninho Piauiense será que seriam tão bondosos se um agressor de sua filha ou parente próximo pedisse uma segunda chance em uma empresa pertencente a um amigo ou a um parente próximo? O que está distante da gente nunca dói.

Vou além: essas ideias nem deveriam ser escritas por um homem negro, casado e jornalista profissional há 25 anos e sim por uma jornalista esportiva. Mas como se no país inteiro as mulheres são discriminadas no exercício da profissão?

Se Juninho Piauiense mostrar um bom futebol tudo será esquecido. Rapidamente. Afinal, ser homem no Brasil e em posição destacada é sempre um privilégio.

(Elias Aredes Junior)