Na corrida do ouro do futebol, a torcida do Guarani fica de mãos vazias

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Se existe uma manifestação cultural que retrata o espirito e as caracteristicas do povo brasileiro este fenômeno é a telenovela. Os intelectuais torcem o nariz, a elite finge que não vê mas não existe fonte mais lucrativa para as emissoras de televisão e que tenha tanto alcance. Histórias que retratam conquistas, reviravoltas e frustrações de um povo talhado para o sorriso e a alegria.

E existem novelas que são especiais porque retratam determinados comportamentos.  Pergunte aos seus pais que  acompanharam a televisão brasileira na década de 1970 sobre a novela a Corrida do Ouro. Escrita em 1974 por um novato Gilberto Braga a novela contava a história do excêntrico milionário Durval Pontes de Albuquerque que morre e deixa um testamento surpreendente e enigmático.

Boa parte do dinheiro seria repartido em partes iguais entre cinco mulheres: Teresa, Patrícia, Isadora, Ilka e Gilda. Porém, para terem direito à herança, elas deverão cumprir tarefas que vão contra os interesses da maioria delas.

Teresa teria que se formar em jornalismo. Patrícia deveria casar com Rafael, homem que não amava. Isadora deveria largar a vida artística. Ilka deveria morar com sua mãe, com quem não tem a menor afinidiade e que não vê há anos: a tresloucada Kiki Vassourada, antiga paixão do milionário. Gilda, que morava na França, deveria mudar-se para o Brasil.

Se a novela fosse ambientada em 2023 deveria ser protagonizada também pela torcida do Guarani.

Porque para ter direito a uma vida digna e voltar aos velhos tempos, prometeram ao torcedor bugrino uma bolada de dinheiro. Uma fortuna que seria a garantia de um novo tempo, de uma concepção esportiva.

Só que para ter direito ao paraíso existia uma condição: entregar o estádio Brinco de Ouro, algo que ninguém queria em sã consciência. No entanto, a promessa era de uma verba para construir um novo estádio, um novo Centro Treinamento e uma nova sede social. Tudo isso firmado em agosto de 2015 por intermédio de sentença judicial.

Passados oito anos, o Guarani entregou o seu estádio e muitas ações trabalhistas foram entregues é verdade. Até agora ninguém viu novo estádio, o time dentro do gramado poucas vezes brigou pelo acesso e os jogadores contratados ou são medíocres ou são atletas em baixa que querem uma vitrine para voltar a berlinda.

Ou seja, podemos dizer que a torcida do Guarani e os associados do clube deram tudo que foi exigido, mas a contrapartida foi decepcionante. Nunca por culpa da justiça, mas pelo atores responsáveis pelo cumprimento da sentença, que nunca justificaram ao torcedor os motivos do atraso.

No final da novela Corrida do Ouro todas as herdeiras abrem mão do dinheiro. Conscientemente. E o Guarani? A expectativa da torcida é o fim das promessas e que o trato seja cumprido.

(Elias Aredes Junior-foto de Marcelo Casal-Agência Brasil)