Reflexões sobre Guarani, 20 de novembro e a violência virtual e real como tática de intimidação

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Como vivemos um momento bélico e com instinto de violência por todos os poros, sempre evitei me posicionar nos últimos tempos. Em qualquer tema. Especialmente política. Ao ser alertado por uma fonte na manhã desta quinta-feira, não poderia ficar em cima do muro. O Guarani não fez qualquer menção ao dia da Consciência Negra. Falha institucional imperdoável. Dos 20 clubes, 16 fizeram menções e textos reflexivos. O Guarani não deu uma linha. E antes que alguém venha acusar: se o Guarani já tinha cometido o pecado no ano passado e eu não apontei a falha é minha. Não pode se admitir tamanho erro.

Falha imperdoável e retratada em matéria. Ao publicar o texto a reação foi a pior possível: declarações racistas, preconceituosas ou que passavam “pano” para posturas preconceituosas.

Tipica atitude de quem considera o negro um cidadão de segunda classe. Fiz o que nunca tinha feito. Usei a página do Só Dérbi para realizar o banimento de 20 ou 30 pessoas que fizeram comentários agressivos, que resvalavam no preconceito ou na relativização do racismo presente no cotidiano.

Não vou citar números. Vocês estão carecas de saber. Cito minha própria história. Sou negro. Filho de negro com uma mulher também negra. Irmã negra. Sobrinho negro. Primos idem. Avôs negros. Familia negra. Que veio para Campinas e lutou. E venceu. Mas nunca, jamais, fechou os olhos para o racismo e a exclusão provocada pelo preconceito racial. Quantos Elias, Julio´s Nascimento, Mauricio Camargo´s ficaram no meio do caminho e deixaram de exercer o sonho do jornalismo? Quantos foram limados por uma sociedade que teve três séculos de escravidão? Quantos? Quantos?

Para você, pessoa branca, seja homem ou mulher, que reclamou da matéria sobre uma falha de gestão do Guarani eu falo: como você adota coragem para reclamar? Você já foi parado injustamente em uma batida policial? Já perdeu oportunidades de trabalho por causa da cor da sua pele? Já ganhou menos do que uma pessoa só por causa de sua raça? Repito: que moral que você tem para falar qualquer tipo de coisa? Qual moral? Um país com 54% de negros e pardos você acha normal que eles não estejam em altos postos ou não tenham oportunidades? Pense, reflita…

No fundo, no fundo, lamento por quem repudiou a reportagem e expôs o pior da sua alma.ç Gente que não valoriza a educação e cujo espírito escravista está impregnado na alma. Considera o negro uma pessoa de segunda categoria e não quer admitir.

Acredito que essa não é a maioria da torcida do Guarani. Não é. A maioria gosta e reconhece os feitos de Jaime Silva, Jorge Mendonça, Zé Carlos, Julio César, Amaral, entre outros.

Mas esta minoria que quer sumir com a história destes heróis e desdenha do sofrimento da população negra no Brasil precisa ser combatida de modo veemente. Diante disso, a atitude alienante da diretoria bugrina não pode passar batido.

O Só Dérbi sempre deixou claro: é um site que vai além do futebol. Que relaciona com a sociedade. Se você despreza a luta contra a discriminação racial não há saída: ou você é racista e será punido no primeiro delito comprovado ou é um alienado afundado na sua própria ignorância. Seja qual for o caso, que Deus tenha piedade de ti que compreende a beleza da vida.

(Elias Aredes Junior)

4 Comentários

  1. Agora todos tem a “obrigacao” de usarmos as redes sociais, se nao escrever alguma coisa é racista, preconceituoso, etc; o fato de lembrar certas datas é somente “politicamente correto”, ninguem sabe o q as pessoas fazem na vida real, o fato de lembrar uma data nao significa q essas pessoas ou instituicoes se comportem de um modo correto, escrever um texto bonito é facil, quero ver agir. A mudança de postura ocorre no dia a dia, longe das redes socias. Artigos como esse ao inves de ajudar colocam mais lenha na fogueira. Ninguem com bom senso apoia racismo ou escravidao, justiça contra aqueles q agirem com racismo, como se faz na Europa e nos EUA, e nao destilar mais odio social pelas ditas “redes”.