Troca de treinador: mesmo quando acerta a diretoria da Ponte Preta consegue errar

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O futebol é cruel. Produz heróis e vilões em velocidade vertiginosa. Condena e absolve os dirigentes em um piscar de olhos. A Ponte Preta anunciou a troca do seu treinador. Sai Alexandre Gallo e entra Eduardo Baptista. Que sempre foi o sonho de consumo dos corredores do Majestoso, diga-se de passagem. Agora é realidade. Pois eu digo: do modo como os fatos surgiram aos olhos da torcida e da imprensa afirmo sem pestanejar: mesmo quando acerta a diretoria da Macaca consegue errar.

A diretoria acertou quando abriu mão de Alexandre Gallo. O time é limitado? Sim, muito. Tem problemas de montagem do elenco? Enormes. O treinador tem mérito em tirar a Macaca do rebaixamento e classificar á fase seguinte da Copa do Brasil? Não há como negar o fato. Mesmo assim, é preciso parar e raciocinar.

Erros e equívocos na forma de pensar futebol na imprensa e torcida. Em todo o Brasil

Nós, torcedores e cronistas erramos quando pensamos futebol em curtissimo prazo. Pedimos providências no calor da emoção e somos incapazes de formular uma análise de conjuntura de médio e longo prazo. Pegue os tapes de jogos da Macaca no Paulistão sob o comando de Alexandre Gallo e o roteiro visto é idêntico: uma equipe até bem armada na defesa, com disposição para fazer o contra-ataque e jogadas de velocidade. E só. O técnico flertou com jogadas de transição e trabalho de posse de bola. Parou. A entrada de Nino Paraíba começou a ficar manjada demais e Ravanelli, técnico e talentoso, passou a sofrer marcação constante dos adversários.

E qual a mudança de posicionamento oferecida pelo treinador? Qual a alternativa tática para melhorar o rendimento de um talento de 19 anos? Eu respondo: nada. Ou seja, Alexandre Gallo exibiu um portifólio tático pequeno, sem grandes variações e com pouca possibilidade de evolução. Mesmo se contratações vultosas fossem feitas.

Não, elenco limitado não é desculpa para trabalho mal feito de treinador. Ou alguém já esqueceu o que fizeram Gilson Kleina e Guto Ferreira com o time montado em 2012? Em conjuntura normal, aquele time deveria cair. Não aconteceu porque os dois treinadores utilizaram tudo que tinham á disposição.

Conjuntura difícil exige resposta rápida

Pegue esse cenário e junte com o fato de que a Ponte Preta vai para um Campeonato Brasileiro com um quadro diferente dos anos anteriores. Os gigantes exibem melhor preparação e nem os mais fragéis financeiramente dão mostras de que podem passar a competição flertando com o fantasma do rebaixamento. Querem um exemplo? O Botafogo, que sob o comando de Ricardo Gomes, exibiu um futebol competitivo e destemido nos clássicos do Campeonato Carioca. Ou seja, os gigantes vão exigir dos médios e pequenos.

Enquanto isso, os concorrentes da Ponte Preta para surpreenderem ou fugirem de qualquer resquício de Série B decidiram investir não só em jogadores como também em técnicos de qualidade. O Sport terá continuidade com Paulo Roberto Falcão; Guto Ferreira faz sucesso na Chapecoense; o Santa Cruz aposta suas fichas no estudioso Milton Mendes; o Atlético Paranaense, além da boa estrutura, terá Paulo Autuori no banco de reservas.

O Figueirense, por sua vez, tem Vinicius Eutrópio de péssima passagem pela Macaca, o Vitória aposta em Vagner Mancini, sedento para repetir o feito com o Furacão Paranaense em 2013, o América Mineiro aposta no veterano Givanildo de Oliveira e Gilson Kleina busca reabilitar o Coritiba. Moral da história: não dá para correr riscos.

Além de jogadores de qualidade, é imprescindível contar com técnicos de ponta, qualificados ou que tenham diversos modelos de jogo para aplicar nas 38 rodadas. Por tudo que mostrou na Ponte Preta e até na Seleção Sub-20, Alexandre Gallo não é o nome. Pelo que fez no Sport, não só em resultados, mas também com modelos de jogo e estruturação tática, Eduardo Baptista é um nome adequado.

Os erros na demissão e contratação

Duro é constatar que a Macaca fez o certo mas de uma maneira errada. Ora, a limitação do trabalho de Alexandre Gallo vem sendo exposta aos analistas de futebol desde o início. Não é de agora. Por que esperar uma partida de Copa do Brasil e juntar com a frustração do Paulistão para tomar a decisão? Mais: demitir um profissional e horas depois contratar outro deixa no ar uma sensação ruim, um gosto amargo. Faltou tato, habilidade e especialmente timing para a diretoria da Macaca realizar a mudança.

Os dirigentes deveriam entender que sua função tem um toque de Recursos Humanos. Demitir é da prerrogativa de um time de futebol. Só que isso não exclui conceitos como dignidade, transparência, respeito e até um toque de solidariedade.

Alexandre Gallo tem todos os motivos para ficar chateado e decepcionado com a atual direção da Macaca . A diretoria tem argumentos para tomar a decisão que tomou. Mesmo que tenha sido de uma forma lamentável e atrapalhada.

(análise feita por Elias Aredes Junior)