Análise Especial: Os sete pecados capitais dos técnicos brasileiros

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O narrador Luiz Roberto, da Rede Globo, deu a letra durante a vitória da Seleção Brasileira sobre Guiné por 4 a 1: a direção da CBF vai esperar por Carlo Ancelotti. Ele será o novo técnico da Seleção Brasileira. Notícia ratificada por André Rizek do Sportv.

O início da gestão será em janeiro ou junho de 2024. Pouco importa. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, quer um top de linha do futebol mundial. Em atitude corporativa, muitos técnicos e jogadores brasileiros repudiam a presença de um técnico estrangeiro no comando da equipe cinco vezes campeã do mundo. Alguns em entrevistas coletivas afirmam de maneira contundente que os técnicos brasileiros não precisam aprender nada.

Será?

Desde 2019, os técnicos com trabalhos mais vistosos em gramados brasileiros são oriundos de outros países. Jorge Jesus deixou marcas e conquistas no Flamengo. Abel Ferreira é considerado por muitos o melhor treinador da história do Palmeiras. Sampaoli recolocou o Santos em patamar competitivo em 2019 e agora é considerado a esperança do rubro negro carioca pela busca de dias melhores. Repito a pergunta: será que os técnicos brasileiros não precisam sequer de reciclagem? Precisam. Evidente. Mas o pecador dificilmente olha para suas falhas.

Técnicos do futebol brasileiro acalentam os seus pecados capitais. A gula por espaços é voraz. O mercado de treinadores é selvagem. É bloqueado o aparecimento de novos valores. É um clube restrito e pequeno. E que quer abocanhar tudo. Antes do desembarque dos estrangeiros, o mecanismo era simples: um grupo fechado trabalhava nos 12 gigantes e quem estava fora do círculo, só passava pelo funil se tivesse a “benção” de quem estava na roda da fortuna da bola.

Consequência: os técnicos de futebol do Brasil passaram a ostentar a avareza. Como? Constata-se uma fissura dos técnicos brazucas em acertar contratos milionários. E que nem sempre é seguida por qualidade no trabalho. Em caso de fracasso, a desculpa está na ponta da língua: o calendário é massacrante, as condições de trabalho não são adequadas, o relacionamento com os jogadores atrapalhou a aplicação da plataforma de jogo…Tudo tem uma justificativa! Até para justificar um salário polpudo no próximo clube. A culpa sempre é do outro.

Técnicos brasileiros estão conectados com a luxúria. Uma palavra associada ao prazer. Um conceito que teve vários significados nos últimos anos. Prazer de ser reconhecido. Prazer de ganhar facilidades quando está em um restaurante. Prazer proporcionado pelas facilidades abertas com o dinheiro recebido em times de ponta. Do dia para a noite, tudo mudou. Essas facilidades e portas escancaradas são usufruídas por gente do outro lado do Oceano. Qual técnico brasileiro tem prazer em viver neste quadro? Nenhum. Boa parte da resistência pela chegada de Carlo Ancelotti está explicada.

E a preguiça? Evidente a associação com a falta de vontade de buscar conhecimento. Todos acham que basta aplicar aquilo que aprenderam no gramado. Não é preciso frequentar cursos da CBF. Ou buscar diplomas pela Uefa. A clássica “resenha” é suficiente para ganhar e levantar taças. De repente, nomes como Abel Ferreira e Jorge Jesus demonstraram o protagonismo da Ciência do Esporte. E escancaram o casamento dos treinadores brasileiros com o comodismo.

Para esconder tais debilidades nada melhor do que a soberba. Treinadores brasileiros utilizam as entrevistas coletivas após os jogos para enaltecerem a sí próprios. Um show de frases feitas e uma postura que lembra mais o Alberto Roberto, ator canastrão criado pelo genial Alberto Roberto. Nesta interpretação de quinta categoria, algumas perguntas nunca são respondidas: E o rendimento do time? E as variações táticas? E as escolhas de escalação? Tudo fica em segundo plano. A meta é somente “causar” e reafirmar uma identidade artificial, sem nexo e que é derrubada no enfrentamento com técnicos estrangeiros.

O embate gera exposição. Que produz questionamento. Que coloca o profissional brasileiro na berlinda. Que responde com ira. Eles pensam que são vítimas de um rancor generalizado e perpetuado pelos veículos de comunicação. Acham que o trabalho dele e de todos os técnicos brasileiros é colocado em patamar inferior.

No fundo, a alma da maioria dos treinadores brasileiros esconde o pecado que ninguém confessa: a inveja. Que nada é mais do que o desejo da pessoa de querer tomar aquilo que é de outro. Na atualidade, qualidades como prestígio e credibilidade dentro do banco de reservas estão com os treinadores oriundos de outras partes do mundo.

É essa conjuntura que faz o presidente Ednaldo Rodrigues apostar todas suas fichas em um técnico multicampeão e consagrado para comandar a Seleção Brasileira. Um técnico com certidão de nascimento italiana. Será o constrangimento final aos treinadores nascidos no Brasil. Se isso não for suficiente para que eles façam uma redenção de seus pecados profissionais, não sei qual será a saída para tamanha mediocridade.

(Artigo escrito por Elias Aredes Junior-Foto da CBF-Divulgação)