Análise Guarani: sem a mobilização de quem comanda, encher o estádio fica bem mais dificil

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O torcedor do Guarani espera por uma reação da equipe no dérbi 204. Aposta que as contratações feitas pelo Superintendente de Futebol, Rodrigo Pastana, podem surtir o efeito de equilibrar um jogo que parecia perdido há duas semanas, dada a ineficiência bugrina. Empate com Criciúma e triunfo contra o Náutico produziram um novo alento.

Mesmo assim, existe um gosto amargo na boca do torcedor bugrino. Nas redes sociais e aplicativos de mensagens há uma certa vergonha e inconformismo pelo desempenho do rival na bilheteria. A Ponte Preta colocou oito mil pagantes contra o Vasco e deverá colocar mais de 15 mil no dérbi. Como o público diante do Náutico ficou um pouco acima dos cinco mil pagantes, nada mais natural do que a decepção seja a protagonista do coração do torcedor bugrino.

No exercício da minha função já critiquei diversos comportamentos e atitudes da torcida do Guarani. E tive que suportar diversos tipos de retaliação. Tanto que, mesmo após 14 anos de trabalho ininterrupto e de acompanhamento do futebol campineiro muitos ainda demonstram resistência ao meu trabalho. Mas como diria o inesquecível Juarez Soares, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Se a média de público do Guarani decepciona nos últimos jogos e perde feio do rival, a torcida do Guarani não é culpada. É vitima.

Peço um pouco de sua atenção para explicar.

Com 111 anos de existência, em boa parte de sua história, o Guarani sempre foi calcado em cima de um espirito comunitário para sonhar e tocar seus projetos.

No passado, o Guarani era um clube formado basicamente por profissionais liberais e integrantes da classe média. Hoje, uma agremiação essencialmente popular, com presença importante em bairros periféricos de Campinas.

E toda essa transformação com participação decisiva Torcida Fúria Independente. E precisamos adotar discernimento. Se meia duzia ou pequena parte adotam a violência e a arruaça como normas de conduta, isso não pode impedir uma análise ponderada sobre o papel das torcidas organizadas e especialmente da Fúria na transformação da torcida do Guarani.

E neste contexto, com tais caracteristicas, a figura do presidente ou de um dirigente tem forte influência. É ele que mobiliza, inclue esperança no cardápio e faz com que toda a comunidade vá para o estádio, compareça e dê um voto de confiança. E quando isso se transforma em virtuais, a chamada propaganda boca a boca fomente um movimento em direção as arquibancadas.

Para ser justo, penso que dois ex-presidentes cumpriam este papel com maestria.

O primeiro foi Luiz Roberto Zini, que durante a sua gestão sempre utilizava os microfones das rádios para chamar o torcedor bugrino e conclamá-lo para participar de jogos importantes e decisivos. Foi assim contra o Coritiba, na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1991; Foi dessa maneira que ele lotou o Brinco de Ouro durante os brasileirões de 1994 e 1996.

Esse espirito de aglutinação também foi presente em Horley Senna na Série C de 2016, quando ele buscou reagir por intermédio de palavras e convocou a torcida para os jogos de volta contra o ASA de Arapiraca e o ABC. E foi premiado. Com duas vitórias, sendo que a segunda, por 6 a 0 sobre a equipe potiguar foi inesquecível.

Fica a pergunta: o que faz o presidente Ricardo Moisés. Ele convoca a torcida? Tem um discurso capaz de mobilizar os torcedores? Utiliza o poder do Conselho de Administração para fazer uma política aglutinadora, capaz de quebrar resistências e lotar as arquibancadas?

E sua falta de habilidade ficou evidenciada mais uma vez nesta quarta-feira, dia 17 de agosto, quando representantes de torcidas organizadas estiveram no Brinco de Ouro para conversar com diretoria, jogadores e comissão técnica sobre o derbi. Se a postura tivesse sido mais pró ativa será que chegaria neste patamar? duvido. 

Neste momento delicado, de pressão e perigo eminente de chegar a terceira divisão, se a torcida do Guarani não consegue uma maior mobilização é porque o comandante do processo, aquele que deveria fazer a diferença simplesmente prefere esquivar-se de dialogar com a torcida e aceita que pelo menos no derbi das arquibancadas a diferença seja acachapante.

(Elias Aredes Junior com foto de Thomaz Marostegan-Guarani F.C)