Artigo Especial: atitudes que jogam contra os jogadores e a Ponte Preta não podem acontecer. Por Stephan Campineiro

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Eu, Stephan Campineiro, autor do livro “Majestoso 70: o estádio construído pela torcida que tem um time” e responsável pela página, fui surpreendido no início da noite deste sábado, 15 de agosto de 2020, com a notícia de que um grupo de cerca de 50 “torcedores” hostilizou e ameaçou o elenco da Ponte Preta na saída do estádio Moisés Lucarelli logo após o empate por 3 a 3 contra o Vitória, válido pela terceira rodada da Série B do Campeonato Brasileiro.

Parece mentira, mas não é. Pressão e violência – ela também existe em sua versão psicológica – injustificáveis após a terceira rodada do campeonato sobre um time totalmente reformulado, com 11 novos atletas e uma perspectiva bastante favorável de acesso ou algo ainda melhor.

Pior ainda, as manifestações tiveram como principais alvos justamente os três melhores atletas do elenco: Ivan, goleiro de seleção brasileira, Camilo e João Paulo. Burrice é o mínimo que se possa dizer sobre tal postura.

Pelas características do ato e, especialmente pelo fato de líderes e figuras conhecidas das torcidas organizadas do clube não terem sido identificados, tudo leva a crer que tenha sido um ato orquestrado, político, para conturbar ainda mais o ambiente do clube.

Todo o meu desprezo a quem está por trás disso e àqueles que, em troca de dinheiro, se escondem atrás da camisa do clube para participar de tais atos, manchando a história da torcida pontepretana.

Antes de continuar, quero deixar claro que não tenho relação com a atual diretoria executiva da Ponte Preta, nem estou aqui para defendê-la. O ato desprezível da última sexta-feira também serve de reflexão para o papel que a torcida pontepretana – a verdadeira e não aquela pequena parcela que se infiltra dentro de uma torcida organizada para disseminar violência, buscar vantagens financeiros e “aliviar” as frustrações do dia a dia – tem desempenhado nos últimos tempos.

Essa mensagem é dirigida a você, que está lendo essa nota e que, muitas vezes, se esconde atrás do teclado para, de forma covarde, criticar a tudo e a todos, o tempo todo, dentro ou fora do futebol.

O início de campeonato do time comandado por João Brigatti, de fato, deixa a desejar. Mas é evidente para quem entende um mínimo de futebol que há qualidade neste grupo e que, diante de um elenco com 11 reforços recém-contratados, que começou a atuar junto há apenas uma semana, somente o tempo será capaz de dar o padrão de jogo e os resultados com que todos sonhamos.

A impressão que tenho é que, na Ponte Preta de hoje, nem mesmo o badalado Jorge Jesus sobreviveria.

Vale lembrar que, antes da histórica campanha com cinco títulos em um ano à frente do Flamengo, o português foi eliminado em casa diante do Athletico Parananese na Copa do Brasil e acumulou apenas uma vitória nas cinco primeiras partidas. Se a diretoria pontepretana der atenção ao “termômetro” das redes sociais, teremos cinco treinadores e 60 atletas por temporada no Majestoso. Nada serve, ninguém presta.

Você que usa as redes sociais para detonar o elenco e a comissão técnica o tempo todo também tem sua parcela de culpa quando 50 “torcedores” se aproximam de consumar agressões ao elenco. Ainda que de forma subjetiva, está chancelando a posição de quem parte para a ignorância.

É hora de reclamar menos e ajudar mais. Quando a pandemia passar, vá ao estádio e reforce a torcida na arquibancada ao lado “dos três mil de sempre”.

Não deixe para ir ao Majestoso somente em dia de dérbi ou quando o time engatar uma sequência positiva na reta final de um campeonato. Faça sua adesão ao programa de sócio-torcedor em vez de ameaçar cancelá-lo ou efetivar sua saída ao primeiro tropeço.

Faça, de fato, parte da maior torcida do interior do Brasil. Não fique apenas no discurso. Torcer pelo clube do coração é muito legal, mas trata-se de um ato de amor.

E o amor, verdadeiro, é incondicional. Que tal deixar de lado essa mentalidade insuportável dos tempos modernos de “consumidor”. Só vale a pena torcer se ganho algo em troca? Então, amigo, é melhor você repensar sua relação com a Ponte Preta.

Da forma como as coisas têm caminhado nos últimos anos, imagine que ainda não tivéssemos um estádio e alguém encarnasse Moysés Lucarelli, conclamando a torcida a se envolver na construção de um estádio para a Ponte Preta, um dos capítulos mais bonitos de nossa centenária história.

Será que esse “novo Lucarelli” teria êxito em 2020? Tenho minhas dúvidas. Infelizmente, boa parte dos atuais torcedores se esconde atrás do teclado, “fala muito” e não apoia quase nada. Mas quer em troca os resultados de um Bayern de Munique.

Para um clube do interior do Brasil, como a Ponte Preta, que luta contra um sistema injusto e está na rabeira na disputa por patrocínios e cotas de televisão, somente a união de esforços será capaz de levar o clube a uma mudança de patamar, com cada um desempenhando seu papel, inclusive o da torcida, de criticar, mas no momento certo. Jamais da forma lamentável como aconteceu ontem.

(Artigo de autoria de Stephan Campineiro-Publicado em suas redes sociais)